O sotaque ainda entrega, apesar do bom português. Mas quem vê Diego Torres no Brasil não tem dúvidas: o argentino parece em casa. Desde 2018 no país, o meia já morou no Sul, no Sudeste, no Nordeste e, agora, está no Norte. Tem sua primeira experiência no Amazonas, e é protagonista no projeto do clube que mira a Série A. Hoje um sonho. Em campo, Diego Torres tenta provar o contrário.
Sem conseguir espaço na elite do futebol argentino, Torres se destacou no Chile. Fez duas temporadas de alto nível pelo Deportes Iquique até receber uma ligação para vir jogar no Brasil. “A primeira coisa que falei é que queria ir”, disse o jogador, em conversa com a reportagem de oGol.
A ligação tinha o DDD 49. A Chapecoense pagou a multa rescisória de Diego Torres com os chilenos para contratar o meia. Entre 2018 e 2019, o argentino teve sua única experiência na elite do futebol brasileiro, e chegou a jogar a Copa Sul-Americana.
Torres lembra que, ele e a família, se adaptaram bem a Chapecó. “Havia muitos costumes argentinos, então a gente se adaptou rápido”. Mas a cidade catarinense foi apenas o pontapé inicial de uma jornada pelo Brasil.
Em Maceió, defendeu o CRB, e conseguiu, individualmente, a melhor temporada da carreira, com 12 gols e 10 assistências em 55 partidas em 2021. “Pelos números que fiz lá, foi minha melhor temporada (no Brasil). É simples”, disse o argentino, que elogiou o elenco regatiano naquela temporada.
O Galo bateu na trave na luta pelo acesso, e ficou a quatro pontos do G4. Após passagem também pelo Grêmio Novorizontino, o meia voltou a lutar pelo acesso em Salvador com a camisa do Vitória. “Camisa pesada e de muita tradição”, como ressalta.
O Leão terminou campeão da Série B. Mas Diego Torres não terminou a campanha ali. Após conversa com o técnico Léo Condé, ficou decidido que buscaria minutos em outro lugar.
“No decorrer do ano, fui perdendo um pouco de espaço, então tive uma conversa com o treinador, o Condé, que foi bem claro comigo, que se eu tinha outro clube, ia ser melhor, porque eram muitos jogadores na minha posição e ele tinha outras prioridades”, revelou.
Diego Torres teve propostas para seguir no Nordeste. ABC, CSA, Náutico… “O Náutico era mais fácil aceitar, camisa grande, clube gigante”. Mas o meia resolveu desbravar o Norte, e assinou com o Amazonas. O jogador explica os motivos.
“Optei por vir para o Norte porque o presidente do Amazonas me ligou, e eu estava precisando daquele carinho. Ele falou que eu ia jogar, me deu muita moral, e eu optei por vir para o Amazonas”, contou.
Em Manaus, chegou para lutar pelo acesso para a Série B. O Amazonas começou a fase final com duas derrotas, mas uma mudança no comando técnico balançou o time, que reagiu e acabou com o acesso.
“A gente estava ainda com o Lacerda (Rafael, treinador). Nos primeiros jogos do quadrangular, a gente perdeu e teve mudança de treinador. A gente conseguiu esse acesso para Série B, algo inédito. Ressalto muito o grupo. A chegada do treinador (Luizinho Vieira) também, que ajudou e mudou nossa cabeça, deu para ver o reflexo no campo. Ele esteve no comando seis jogos, e não perdemos nenhum, ganhamos cinco. Foi uma escolha muito boa”, analisou.
O Amazonas terminou campeão da Série C, com gol de Diego Torres na decisão contra o Brusque. Fundado em 2019, o clube já alcançou a segunda divisão no Brasileiro. O meia argentino destaca a ambição da diretoria, que quer colocar a Onça na elite.
“Pelo pouco tempo de clube, quatro anos, a estrutura me surpreendeu. Ainda tem algumas coisas a melhorar, obviamente, mas é um clube muito novo e estar na Série B em tão pouco tempo… Daqui a pouco tempo, esse clube vai chegar na Série A, e vão falar muito bem dele”, disse Torres, confiante no projeto.
“O presidente é um cara muito positivo, ele fala que daqui a pouco tempo, vai estar na Série A. E eu acredito. Ele já viu que a cobrança é maior na Série B, e acho que o clube está se preparando muito bem. Um clube que quer melhorar em todos os aspectos”, revelou.
Apesar do acesso para a Série B, o Amazonas ainda terá muitos obstáculos para projetar a elite. A questão logística é um deles: Manaus só tem uma ligação terrestre com o resto do país (a rodovia Manaus-Porto Velho), para citar apenas um dos desafios logísticos. De avião, o tempo médio de um voo direto entre a capital manauara e São Paulo, Estado com o maior número de participantes na Série B (seis), é de 3h49min.
“A realidade é que Manaus é muito longe. A logística vai ser bem puxada para gente, assim como para os rivais que vão vir. Mas a diretoria vai tentar dar o melhor suporte para a gente estar bem para os jogos. Vai ser desafiador, mas que a gente vai se preparar em todos os sentidos”, analisou Diego Torres.
Antes de lutar por um lugar na elite, e enfrentar os desafios da Série B, Diego Torres vive a experiência de jogar o Campeonato Amazonense. O Amazonas garantiu classificação para a semifinal do primeiro turno do “Barezão“.
“É a primeira vez que estou jogando o Campeonato Amazonense e a realidade é que a gente vai enfrentar os times aqui, são muitos jogos truncados, de poucos espaços. No começo, a gente sabia que ia ser difícil, porque a gente não se preparou muitos dias como eles (rivais). Mas agora a gente já está com mais ritmo de jogo e conseguimos a classificação. Mas em vários Estados que joguei, foi bastante parecido (em nível)”, analisou.
A grande diferença, segundo Diego Torres, é o calor. Em Manaus, o ano não é dividido em estações, mas em dois períodos: o de chuva, e o de seca. Em ambos, o calor é forte. O alto índice de umidade relativa do ar aumenta a sensação de um clima “abafado”. Até agora, jogar no calor amazonense foi o grande desafio para Diego Torres.
“O único problema no Norte é o calor, é muito quente, cara… E jogar 15h da tarde é desumano. 15h, com aquele sol. Por exemplo, a gente jogou ontem, acho que estava fazendo 39, 40 graus. Acho que a gente poderia jogar mais tarde. Mas a gente tem que se acostumar com qualquer ambiente, nos preparamos para isso”, comentou.
Diego Torres brinca que conhece “faz tempo” o açaí, bandeira da região amazônica, garante gostar da vida em Manaus e promete explorar a cidade e os arredores assim que tiver mais tempo livre.
“Ainda não fui nos museus, mas minha esposa e minhas filhas já foram. Mas eu gosto desses passeios. Sei que tem as cachoeiras, ainda não fui. Estamos esperando uma folga para ir. Ainda não conheço muito, mas já fiz aquele passeio no Rio Amazonas. Ainda tenho muitas coisas para conhecer”, garantiu.
A jornada de Diego Torres no Brasil ainda está longe do fim. Ainda há muito para desbravar, dentro e fora de campo.
Fonte: Ogol
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