A cidade de Heidenheim conta com pouco menos de 50 mil habitantes, de acordo com o último censo local. O pequeno povoado na região de Baden-Württemberg, entretanto, desafia a elite do futebol alemão nesta temporada e, no meio da tabela da Bundesliga, se mostra candidato a lutar por competições internacionais ano que vem. O conto de fadas é escrito através das mãos de um homem: Frank Schmidt.
Schmidt nasceu em Heidenheim em 1974, ano em que a Alemanha foi campeã do mundo. Fez carreira modesta como jogador, apesar de ter atuado nas seleções de base da Alemanha. Passou por clubes como FC Nürnberg e Alemannia Aachen até voltar para sua cidade natal para encerrar a carreira no Heidenheim, então na sexta divisão do futebol alemão.
“Eu lembro que minha primeira conversa com Holger Sonnenwald, que hoje é o CEO do clube, foi em uma sala cheia de papéis, documentos, e você mal podia se mexer, algo com seis, sete metros quadrados. Eu pensei: ‘É, pode ser empolgante aqui em Heidenheim'”, confessou anos mais tarde ao site da Bundesliga.
Em seu primeiro ano como jogador do Heidenheim, Schmidt ajudou o clube a subir para a quinta divisão alemã. O hoje técnico lembra do clima de amadorismo nos primeiros anos de clube.
“Estávamos na sexta divisão, então nos jogos em casa jogávamos diante de 300, 200 pessoas. Todos se reuniam perto da barraca de salsichas e cerveja, o que era normal depois dos jogos (…). Lembrar de onde viemos ainda nos ajuda, lembrar e valorizar esse tempo, porque você conhece seu valor, sabe de onde veio e valoriza ainda mais o que conquistou”, explicou.
Schmidt era o capitão do time quando resolveu encerrar a carreira, no meio de 2007. Em setembro daquele ano, Dieter Märkle, seu antigo técnico, foi demitido, e Schmidt assumiu como técnico interino. Nunca deixou a equipe desde então.
O sucesso de Frank Schmidt no comando técnico do FC Heidenheim foi meteórico. Da quinta divisão em 2007, escalou até a terceira divisão em 2009 após o título da quarta divisão na temporada 2008/09.
“A ideia no clube era sempre alcançar o próximo degrau, e nunca ficar satisfeito onde estávamos”, contou Schmidt.
Assim, já no primeiro ano de terceira divisão, o clube terminou na sexta colocação, lutando até a última rodada pelo acesso. Mas a subida para a segunda divisão só veio em 2014, após sucessivas campanhas batendo na trave. Com campanha fora de série, o Heidenheim acabou campeão da Liga 3.
Na Bundesliga 2, foram mais anos de espera. Mas para quem, há uma década e meia, estava na sexta divisão…
A campanha do acesso teve momentos memoráveis, como a vitória por 5 a 0 sobre o Nürnberg, uma semana depois de um eletrizante empate em três gols diante do Hamburgo, rival direto na luta pelo acesso direto.
Com cinco vitórias nas últimas sete jornadas, o Heidenheim cresceu, despedaçou o coração do tradicional Hamburgo, que não conseguiu o acesso, e conseguiu o título após uma última rodada de tirar o fôlego.
Jogando fora de casa, o Heidenheim levou 2 a 0 do Jahn Regensburg. Embora tivesse descontado com gol contra de Saller, fora para os acréscimos da partida ainda derrotado. Só a vitória daria a taça, desde que o Darmstadt 98 perdesse. Jan-Niklas Beste, aos 48, e Tim Kleindienst, aos 54, garantiram a virada em um final de loucos. O Darmstadt acabou derrotado, e o FC Heidenheim 1846 acabou campeão de forma espetacular.
Frank Schmidt é o técnico com trabalho mais longevo da história do futebol alemão, perto de completar 17 anos no comando do Heidenheim. Do amadorismo até a Bundesliga, agora faz o modesto time incomodar a elite do futebol alemão.
Quem esperou que o recém-promovido fosse um forte candidato ao rebaixamento na primeira temporada na primeira divisão não poderia se enganar mais. O Heidenheim ocupa a décima posição na Bundesliga, e está a apenas dois pontos do sétimo colocado, Hoffenheim, equipe que hoje garantiria a primeira vaga para competições internacionais da liga.
Certamente passou um filme na cabeça quando Schmidt foi enfrentar o Borussia Dortmund no Signal Iduna Park, ou o Bayern de Munique na Allianz Arena. O técnico certamente olhou para trás quando superou o Stuttgart no dérbi local. Um dérbi que, há poucos anos atrás, pouco significaria.
“Quando eu cresci, era sempre Stuttgart contra o Bayern. Foi assim que nós crescemos, nunca houve outro clube local que pudéssemos pensar para jogar futebol. Então o primeiro dérbi de Württemberg na Bundesliga foi muito especial. E o mais louco é que o Heidenheim fez parte desse dérbi”, comentou.
Após um início irregular na Bundesliga, o Heidenheim engrenou a partir de dezembro. Nos últimos dez jogos, o time perdeu apenas uma vez, venceu quatro partidas e empatou cinco vezes. A única derrota no período foi para o imbatível Bayer Leverkusen.
A Bundesliga deu uma pausa no meio desta semana, mas volta no fim de semana com mais uma página em branco para Schmidt e o Heidenheim continuarem a escrever seu conto de fadas. O time recebe o Eintracht Frankfurt na pequena cidade, que carrega um orgulho imensurável pelo time que colocou seu nome no mapa.
Fonte: Ogol
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