O crescimento do PIB dos Estados Unidos pode levar a uma postergação da queda de juros no país.
O Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos cresceu 3,2% no quarto trimestre do ano passado e 4,9% em 2023, confirmando a primeira leitura divulgada anteriormente. Antes da divulgação dos dados nesta quarta-feira (28), a Inteligência Financeira consultou especialistas sobre possíveis cenários para o PIB norte-americano.
Os especialistas foram unânimes ao afirmar que, no cenário de manutenção dos dados, a queda de juros nos Estados Unidos provavelmente será adiada para depois de junho. No entanto, eles divergiram sobre os possíveis impactos dessa situação na bolsa de valores e no câmbio, além das incertezas em relação à inflação nos Estados Unidos.
A leitura de fevereiro do PIB real dos EUA no 4T23, divulgada pelo Bureau of Economic Analysis, veio um pouco abaixo dos 3,3% da primeira leitura. No terceiro trimestre, o PIB real aumentou 4,9%. A novidade da segunda leitura, além da correção discreta para 3,2%, é uma visão mais voltada para o impacto sobre a renda.
Com o PIB forte, “existe a possibilidade de o mercado ir postergando a queda dos juros”, diz Christopher Galvão, analista de Fundos da Nord Research. Isso porque o aquecimento da economia reforça uma preocupação com a inflação naquele país.
Os especialistas projetam a queda de juros somente para o segundo semestre, após a decisão de junho. “É notório que ainda não foram reunidas condições suficientes para tornar a economia menos restritiva”, diz o sócio da Aware Investments.
Portanto, não há uma relação direta entre o desempenho do PIB dos Estados Unidos ou qualquer outro dado de atividade econômica e a condução da política monetária. Os bancos centrais procuram olhar para uma série de dados, além do PIB, antes de tomar uma decisão. A manutenção do crescimento do consumo “poderia impactar os preços dos serviços, segmento que ainda não deu contribuição relevante para o processo de desinflação”, explica Lucas Farina, analista econômico da Genial Investimentos.
Porém, o rendimento pessoal veio menor que o da primeira leitura, o que pode ser um alívio.
O analista da Genial crê que uma virada na política monetária só seria possível em junho.
Ele avalia ainda que o Fed precisa “ter mais confiança de que a inflação está em trajetória sustentada para a meta de 2,0% antes de começar a cortar os juros”.
O diferencial de juros entre o Brasil e os Estados Unidos deve continuar a ser o principal determinante para a trajetória do câmbio em 2024. A avaliação é de Farina, da Genial Investimentos.
Assim, esse diferencial de juros entre os dois países deve continuar diminuindo. Isso tende a pressionar o real para cima.
No segundo semestre, quando deve ter início o ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos, o Brasil deve efetivar a sua paralização na queda dos juros locais, “voltando a ter pressão para a valorização do real”, segundo Farina, com o Brasil voltando a ser um desembarque mais atrativo para o capital global diante de uma renda fixa americana com remunerações menores.
Por outro lado, o PIB do quarto trimestre acompanha o desempenho acima do esperado do trimestre anterior. E, com isso, o dólar também ganha força, o que pode desvalorizar o real, na avaliação de Paulo Gala, economista-chefe do banco Master.
“Isso desvaloriza a moeda brasileira e pode, eventualmente, prejudicar o Ibovespa. Porque o juro mais alto nos EUA deixa o retorno em outros mercados menos atraente”, contrapõe.
Para Gustavo Zuquim, especialista em mercado americano pelo Andbank, um eventual deslocamento de abertura de curva de juros, caso a economia siga crescendo acima do esperado, pode fortalecer o dólar.
“A persistência de crescimento da economia também gera uma maior confiança nos níveis atuais de precificação de renda variável, com o S&P perto de 5.100 pontos”, diz Zuquim.
Ou seja, o crescimento consistente do PIB dos EUA pode levar a um maior fluxo de capital no curto prazo, tanto na renda fixa quanto na variável na maior economia do mundo.
Desde o movimento de alta das Treasuries em meados do ano passado, os ativos brasileiros, incluindo o Ibovespa, estiveram muito dependentes da política monetária, do PIB dos EUA e outros indicadores da maior economia do mundo.
“Foi somente com a percepção de que o otimismo do mercado acerca do início do ciclo de corte de juros nos EUA foi exagerado, que a bolsa brasileira passou a apresentar algum movimento de ajuste ao longo de janeiro e fevereiro”, diz Farina.
Dito isso, caso a atividade econômica mais forte nos EUA se traduza em um movimento de abertura da curva de juros, “o Ibovespa deve recuar na esteira de uma igual abertura da curva de juros doméstica”, avalia o economista da Genial.
Mas, para Caenazzo, o Brasil tem conseguido se descolar parcialmente dos efeitos do PIB americano sobre sua própria economia.
Por outro lado, o Brasil tem abraçado mais os asiáticos, o que pode vir a atenuar as incertezas a respeito da economia americana.
Nesse sentido, o Ibovespa tem derrapado com as incertezas no oriente, especialmente na China. Com o mercado de construção civil, especialmente, levantando dúvidas sobre o futuro da bolsa brasileira.
“O Ibovespa vai sofrer no curto prazo, mas tem espaço para subir”, diz Perfeito, que ressalta também a melhora do PIB brasileiro como notícia positiva.
Portanto, um crescimento acima do esperado para o PIB brasileiro pode dar mais força aos ativos de risco no país.
Uma nova demonstração pode ser dada na próxima sexta-feira (1), quando será divulgado o PIB brasileiro de 2023.
A ver.
Fonte: Inteligência Financeira




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