Um jogador de futebol não é feliz sem minutos em campo. Ainda mais quem está acostumado a fazer a diferença nas quatro linhas. Luan Polli foi de titular absoluto do Sport na Série A e goleiro decisivo do Atlético campeão goiano a atleta pouco utilizado no Couto Pereira. Incomodado com a pouca minutagem, buscou novos ares. Longe de casa. Longe de tudo o que havia vivido até então. No Irã, país que, para muitos, pode ser um bicho de sete cabeças. Diferenças culturais, religiosas, linguísticas. Mas foi lá que Polli voltou a sorrir novamente.
O goleiro, de 31 anos, foi franco em entrevista para a reportagem de oGol ao falar sobre sua saída do Alto da Glória. Polli só queria voltar a sorrir, em campo e também fora dele. Queria voltar a se sentir útil. Estar em um bom clube e com um bom salário não era suficiente para o goleiro ser feliz.
“Houve algumas trocas de comando no clube, que não foram boas e me prejudicaram de alguma forma. Eu não estava feliz com a situação que eu vivia. Consequentemente, eles me comunicaram que eu não fazia parte dos planos para 2024. Minha família não estava adaptada a Curitiba. De certa forma, realmente, eu estava estabilizado, em um bom clube, com salário em dia. Mas não estava feliz, minha família não estava feliz. Por mais que tivesse um salário estável e bom, não tinha porque permanecer em um lugar onde as pessoas não me queriam”, afirmou.
O Nassaji Mazandaran, então, fez questão de valorizar o goleiro. “Desde o primeiro contato”, como lembra Polli, o clube fez o brasileiro se sentir importante. Em abril, Polli voltou a ter uma sequência como titular que não tinha há bastante tempo.
“Foram três jogos. Quando cheguei, meu time estava em uma situação um pouco complicada. A partir da minha chegada, a gente começou a reagir. A gente fez dois grandes jogos contra os principais times do Irã. Um empate e uma vitória, nos dois jogos, saí como melhor em campo. Avalio de forma positiva minha chegada aqui, vindo de um tempo sem jogar. Meu último jogo tinha sido só no final do Brasileiro do ano passado. Então estou conseguindo desempenhar bem e responder dentro de campo”, analisou.
O Nassaji venceu o Tractor Club, por 1 a 0, e ficou mais perto de deixar a zona de rebaixamento da Persian Gulf Pro League. Algo que pode acontecer já na próxima semana. Polli elogiou o novo clube e destacou a nova rotina que tem no futebol.
“É um clube extremamente organizado, a liga também. A estrutura que tenho no clube, não tenho em muitos clubes no Brasil. Tenho centro de treinamento de qualidade, voos fretados, tenho um jogo por semana. É mais tempo em casa com a minha família, período de descanso por conta dos voos fretados e pela estrutura do clube, é totalmente diferente do Brasil”, contou.
O brasileiro se mostrou surpreso, também, pela paixão dos iranianos com o futebol. Os estádios ficam cheios, mas a pressão em cima dos jogadores não se compara com o Brasil. Há respeito.
“Os torcedores são muito apaixonados pelos clubes, estádios sempre lotados. Eles amam o futebol e abraçam o jogador de uma forma que não existe no Brasil. A forma de torcer no Brasil já passou da paixão e está relacionada a pressão, a tu viver tenso 24h, se tu perde um jogo, não pode sair com a família, ter uma vida normal. Aqui, é totalmente o contrário. O clube te dá apoio e os torcedores também, te abraçando, te dando apoio, e não quebrando teu carro”, ressaltou.
Nas últimas semanas, o Irã voltou a ter destaque no noticiário internacional por medidas políticas polêmicas. A repressão nas ruas contra mulheres que não seguem o “código de vestimenta islâmico”, ganhou força na medida que aumentou a tensão por um conflito com Israel. Imagens de mulheres sendo apreendidas em vans brancas ganharam as páginas de jornais internacionais.
Luan Polli está no Irã há algumas semanas. Sozinho, sem a família. Diz ter se adaptado bem ao país e não vivenciou, de perto, nenhuma situação parecida. Nem ouviu nenhum comentário a respeito no dia a dia de clube.
“Às vezes, o que a gente vê no noticiário nem sempre é verdade. Eu não vi nada em relação a isso. Se houve, foi alguma coisa isolada, talvez não como noticiaram. O que vi aqui foi uma cultura riquíssima, povo acolhedor. Obviamente, existem essas diferenças culturais e religiosas, principalmente, mas nada fora da normalidade”, disse o goleiro.
Questionado, também, sobre o protesto dos jogadores da seleção iraniana na última Copa, que se recusaram a cantar o hino protestando contra o governo, Polli disse não ver nada do tipo no dia a dia do futebol local.
“Não vi (protestos dos jogadores na Copa). Mas não vejo nada no dia a dia fora da normalidade. As pessoas vivem normalmente, no futebol, não vejo nada fora do normal. Em relação a política, costumes culturais ou religiosos. No dia a dia do clube, o que consigo entender, não vi nada”, afirmou, antes de completar.
“Essa tensão entre Irã e Israel, eu só vi pela imprensa. Na cidade, não vi nada. Dia a dia normal. As coisas que eu vi, só foram, realmente, via imprensa, principalmente a do Brasil. No meu dia a dia, na cidade, não me afetou em nada”, finalizou.
Luan Polli fez contrato com o Nassaji apenas até o fim da temporada, que segue o calendário europeu. Em poucos meses, deve avaliar um novo passo na carreira. Ou mesmo a sequência para uma nova temporada no Irã.
“Vim para um contrato curto, de dois meses e meio, até o final da temporada. Encerra agora em junho e, a partir daí, vamos sentar e decidir. Se uma renovação com o clube, outra oportunidade fora daqui… Vamos sentar e avaliar com a família os próximos passos. Mas estou muito feliz, me adaptando bem a cidade, a cultura do país”, revelou.
Em caso de retorno ao Brasil, o goleiro sabe de um lugar ao qual tem o maior carinho: a Ilha do Retiro. Polli pensa, um dia, voltar a vestir a camisa do Sport, sem guardar arrependimento pela saída do clube.
“Não me arrependo em nada na minha vida. Tudo que fiz durante a carreira, foi pensando no melhor no momento. Foi assim quando sair do Sport. Espero voltar um dia, acredito que deixei as portas abertas. Quando saí, foi pensando no clube, pelo carinho que tinha pela torcida, a forma como eles me acolheram nos três anos que estive lá. Espero, sim, voltar um dia. Tenho planos de voltar para o Brasil, como falei, meu contrato aqui é curto. Tudo pode acontecer. Espero que um dia as coisas possam caminhar bem para voltar a Recife. Gosto de Recife, minha família gosta de lá, tenho apartamento lá. O carinho que tenho pelo Sport e pela torcida é imenso, então seria muito bacana voltar um dia”.
Fonte: Ogol
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