Foram apenas seis meses de trabalho de Marcelo Gallardo no badalado “mundo árabe”, o suficiente para emplacar uma passagem melancólica e sem deixar saudades. No primeiro desafio “pós-River Plate”, o treinador argentino empilhou eliminações decepcionantes e reencontrou constantemente o algoz, Jorge Jesus, pelo caminho.
Entre o fim da trajetória gloriosa pelos Millonários e a chegada no luxuoso futebol árabe, Gallardo ficou por dez meses longe da área técnica. O convite para, enfim, voltar aos trabalhos veio depois de muita especulação, mas nenhuma oferta oficial para treinar na Europa.
O técnico argentino chegou com status de mais uma estrela na Liga Saudita e às vésperas da disputa do Mundial de Clubes. Muñeco assumiu o trabalho iniciado por Nuno Espírito Santo com a missão de reorganizar a casa e liderar o estrelado elenco com Benzema, Kanté, Fabinho e companhia.
Logo na primeira disputa, o primeiro fracasso. Apesar da vitória na partida de estreia no Mundial, o anfitrião da competição sucumbiu diante do Al Ahly e ficou pelo caminho nas quartas de final, encerrando as expectativas de chegar ao menos na semifinal para encarar o Fluminense.
A decepção em casa não abalou o início de trabalho de Gallardo, mas premeditou uma rotina de eliminações. No grande desejo da temporada, o treinador argentino conduziu com folga os Tigres até as quartas de final da Liga dos Campeões Asiática. O sonho do tricampeonato continental encerrou apenas quando o Al Ittihad cruzou pelo caminho do imparável Al Hilal. Vítima mais frequente da série de vitórias histórica dos comandados de Jorge Jesus, os Tigres sofreram a primeira eliminação com derrota nas duas partidas.
Algoz de Gallardo na decisão da Libertadores em 2021, Jesus reforçou a superioridade nos confrontos diretos e continuou sendo um fantasma no caminho do argentino. Em menos de 20 dias, o Al Hilal goleou o Al Ittihad na decisão da Supercopa e repetiu a dose, despachando os Tigres na semifinal da Copa Saudita.
Campeão da Saudi Pro League na última temporada, o time de Jeddah também fracassou na hora de defender seu título nacional. Com uma campanha inconsistente, o Al Ittihad em nenhum momento ameaçou a 18° conquista do Al Hilal. O time de Gallardo ainda aumentou seu drama na reta final do campeonato e convive com a chance de ficar sem uma das vagas na próxima Champions Asiática.
Embora sem nenhum caso extremo de insatisfação do elenco, Marcelo Gallardo não conseguiu encaixar as estrelas do Al Ittihad. Karim Benzema, craque da companhia, ficou completamente distante das atuações que o levaram ao título de melhor jogador do mundo na temporada passada. Apagado em momentos decisivos, o francês termina a campanha ofuscado pelo marroquino Hamdallah, que marcou quase o dobro de gols do companheiro. Sem contar que o relacionamento entre ambos viveu sempre na corda bamba.
Além de não encontrar o melhor esquema para engrenar o time, Muñeco não fez cerimônia para barrar quem não o agradava. Logo na sua chegada, o argentino bancou o brasileiro Marcelo Grohe, estrangeiro há mais tempo no elenco, e promoveu a titularidade do experiente Al Maiouf.
A segunda contratação mais cara da janela de transferências também sofreu com a resistência de Gallardo. O atacante português Jota, que já não era aproveitado por Nuno Espírito Santo, seguiu tendo pouco prestígio com a chegada do argentino. Somente nesta reta final de temporada, com espaços para estrangeiros nas relações para jogos nacionais, o jovem começou a desabrochar no elenco dos Tigres.
Entretanto, a ausência dos estrangeiros, por lesão, custou caro para Marcelo Gallardo nos últimos compromissos. Sem poder contar com Benzema, Fabinho e Luiz Felipe, o Al Ittihad emplacou quatro derrotas consecutivas que conturbaram ainda mais o ambiente do treinador. O último revés veio em confronto direto com o Al Ettifaq, de Steven Gerrard, que atropelou sem piedade os Tigres por 5 a 0.
A goleada sofrida em casa foi o estopim para a demissão do treinador argentino. Ainda sem confirmar se a saída será imediata ou somente no final da temporada, Gallardo terá a difícil missão de procurar um novo destino. Badalado e em alta na sua chegada ao futebol árabe, o treinador deixa o clube saudita sem mesmo o prestígio de outrora e em busca de um novo rumo para recomeçar.
Fonte: Ogol
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