Com a vitória do Manchester City sobre o Tottenham, em Londres, o Aston Villa confirmou seu retorno para a Liga dos Campeões. Competição que não disputa há quatro décadas. Competição na qual participou apenas duas vezes. Mas ainda assim, conseguiu ficar marcado na história. Como campeão. O campeão da taça roubada.
Apesar de se tratar de uma das equipes mais tradicionais do futebol inglês, um dos primeiros campeões, o Villa passou por uma seca que durou décadas e décadas. Em 1981, já eram 71 anos sem títulos nacionais. Até que, em campanha histórica, dirigido por Ron Saunders, o time de Birmingham conquistou a então Division One, com quatro pontos de frente para o vice-campeão, Ipswich Town.
Foi uma liga bastante equilibrada. O Villa, mesmo sem ter o melhor elenco, usando apenas 14 atletas durante toda a campanha, acabou campeão e se classificou, pela primeira vez na história do clube, para a Liga dos Campeões.
Pouco antes do duelo das quartas de final, contra o Dínamo Kiev, o técnico Ron Saunders surpreendeu a todos e pediu demissão após não chegar a um acordo para um novo contrato. Assumiu seu auxiliar, Tony Barton, até então pouco conhecido da mídia local.
Apesar de ter conquistado a Community Shield ainda com Saunders, o Villa não fazia grande temporada. Sem reforçar o curto elenco campeão na temporada anterior e sofrendo também com lesões, o time sucumbia no Campeonato Inglês e fazia campanha de meio de tabela para baixo. Na Liga dos Campeões, a história era outra…
Na época, o torneio era bem mais conciso. Para chegar na final, os Villains eliminaram o modesto Valur, da Islândia; o Dynamo Berlin; o Dínamo Kiev e, por último, o Anderlecht, da Bélgica. Na decisão teriam pela frente o gigante Bayern de Munique.
“Quando chegamos no estádio, todo mundo estava meio que maravilhado. Tínhamos muitos jogadores jovens naquele time, e nós estávamos todos tirando fotos uns dos outros. ‘Tira uma foto minha aqui atrás do gol, tira uma foto minha aqui'”, relatou Peter Withe sobre o clima antes do jogo.
Na decisão de Roterdã, logo com dez minutos de jogo, o então goleiro titular, Jimmy Rimmer, saiu machucado. Entrou, Nigel Spink, que havia jogado apenas duas partidas em cinco temporadas como profissional. O capitão da equipe, Dennis Mortimer, contou anos mais tarde sobre aquele momento.
“Ele era, do ponto de vista dos jogadores, virtualmente um estranho para a gente. Mas ele teve a oportunidade de entrar e fazer o que sabe de melhor”, brincou o capitão para a BBC.
Spink foi bem, com defesas importantes, incluindo em um chute de Karl-Heinz Rummenigge que ficou marcado para muitos, manteve a meta intacta. O goleiro, que nas temporadas seguintes se tornaria titular, com quase 400 jogos na carreira pelos Villains, jamais esqueceu aquela noite em Roterdã.
“Ajudou que o Bayern era um time tão bom, porque eu não tive chance de pensar no que estava acontecendo. Quando fiz a primeira defesa, já pensei: ‘Talvez eu esteja bem’. A defesa no chute do Rummenigge passa bastante (na TV), mas foi na minha direção”, explicou o goleiro ao Daily Mail.
Além de segurar o rival, o Aston Villa marcou com Peter Withe já no segundo tempo. A jogada do gol foi absolutamente brilhante: Gary Williams fez uma jogadaça pelo meio e descolou grande passe para Tony Morley na área. O atacante gingou para cima da marcação e deixou com Peter Withe só para o toque final. O golaço que fez David derrubar o Golias na Holanda.
Imagina, o time nunca havia disputado uma Liga dos Campeões… Estava há sete décadas sem ser campeão inglês… Quando voltou para Birmingham com a taça, o Aston Villa encontrou uma festa não vista na cidade há muitos anos!
O lateral Collin Gibson, que nem titular foi na decisão, e o meia Gordon Cowans tiveram a brilhante ideia de colocar a “Orelhuda”, troféu da Champions que pesa cerca de 15kg, no carro e ir com ele celebrar o título em um pub da cidade.
“Nós costumávamos levar o troféu para onde conseguíamos para mostrar aos torcedores e deixá-los tirar fotos. Gordon e eu tomamos algumas, e estávamos jogando dardo quando alguém gritou: ‘o troféu já era, foi roubado!'”, lembrou Gibson para a BBC anos mais tarde.
O troféu foi aparecer 160 km distante dali, em uma delegacia de polícia em Sheffield. Segundo a versão da polícia local, um homem ligou para a delegacia dizendo ter o troféu da Liga dos Campeões no carro. Em seguida, o troféu apareceu na recepção da delegacia.
Quase 30 anos depois, foram vazadas fotos da taça com policiais da delegacia e um homem, nunca identificado, que teve o rosto apagado das imagens. Com a taça na delegacia, os policiais se dividiram em dois times e, então, disputaram uma “pelada”. O vencedor ficaria com a “Orelhuda”. Foi a partida mais aleatória da história.
Eventualmente, a taça retornou para seu dono. E o Aston Villa ainda disputou a Liga dos Campeões na temporada seguinte, mas caiu nas quartas de final para a Juventus. Passaram-se mais de quatro décadas e os Villains estão de volta para a Champions. Sonhando, novamente, com a orelhuda. Mas em caso de título, vai ser difícil a Uefa liberar uma viagem da taça para Birmingham…
Fonte: Ogol
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