Indexação e desindexação da economia: o que é e como afeta o seu bolso?
Os anos 1980 ficaram famosos no Brasil por produzirem o que se convencionou chamar de hiperinflação. Parte da alta exponencial dos preços nesse período esteve relacionada a algo chamado indexação da economia.
Essa indexação impõe que os preços sejam ajustados automaticamente via indicadores ou indexadores. Hoje, alguns dos mais conhecidos são o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) e o IGP (Índice Geral de Preços).
Os indexadores são utilizados para evitar que vendedores vejam o valor de seus produtos e serviços ficarem defasado em relação à alta geral dos preços.
Contudo, a indexação – a depender da maneira como é feita – pode criar distorções e ajudar a elevar os preços de maneira descontrolada.
Durante o período mencionado anteriormente, o da hiperinflação, os choques de preço nas economias global eram constantes. E em geral esses choques eram transmitidos diretamente para a economia brasileira. Tivessem ou não impacto com a realidade local.
“Vamos supor que (após) um choque no cenário externo, o dólar disparasse. Isso jogava inflação global para dentro do Brasil por diferentes canais”, explica o economista André Perfeito.
O economista diz que essa realidade ainda existe, de internalização de choques externos sem uma relação direta com a economia local. O ajuste do preço do aluguel é um exemplo.
Isso porque o preço do aluguel é acrescido da variação do IGP. Perto de 60% desse indexador é composto de preços do atacado, que são muito suscetíveis à variação do preço do dólar em relação à moeda local.
Ainda que, na realidade, o preço do aluguel não esteja tão relacionado assim à variação cambial.
“(O indexador) foi usado de forma absolutamente leviana”, avalia Perfeito. O resultado disso tem sido a evolução dos preços do aluguel acima da inflação média da economia.
Para se ter uma ideia do efeito disso, o preço do aluguel – calculado utilizando o IGP-M – subiu três vezes mais que o IPCA – que é o índice de inflação geral em 2023.
Desde a implementação do Plano Real em 1994 a economia brasileira se tornou menos indexada. Segundo Perfeito, o controle da inflação permitiu remover algumas dessas indexações.
“À medida que o horizonte inflacionário se torna menos pesado no curto prazo, a tendência é que as pessoas partam de um modelo que trava as negociações via indexadores para um modelo de livre negociação”, diz o economista.
O ideal, segundo ele, é que tudo seja negociado.
Nesse sentido, o Plano Real ajudou a remover algumas indexações.
“Contudo, tem questões outras de hábito e cultura. Dificilmente vão querer fazer contratos nominais (sem ajuste automático via índices) no Brasil”, avalia.
Por outro lado, há casos em que as indexações restantes foram adaptadas.
Hoje, o IPCA é o indexador mais utilizado para ajustes de contratos. E, por ser o índice de inflação geral, é considerado ‘mais saudável’.
Com as mudanças depois do Plano Real relacionadas à desindexação ou mudança no indexador, “o Brasil avançou bastante”, avalia Perfeito.
Embora “ainda tenha muito o que avançar, mas não tem como fazer por decreto. E, sim, à medida que a economia vai se tornando mais saudável”, conclui o especialista.
Fonte: Inteligência Financeira




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