O que o investidor brasileiro deve olhar no primeiro debate entre Biden e Trump
A corrida das eleições nos Estados Unidos tem seu grande início nesta quinta-feira (27), com o debate entre Biden e Trump. Após quatro anos, os políticos se reencontram em posições opostas. Agora, Joe Biden é o presidente em busca da reeleição e Donald Trump é o candidato de oposição.
A votação na maior democracia do mundo, como é de praxe, atrai atenções em todo o mundo. O Dia D da eleição americana é 4 de novembro de 2024. Neste ano, alguns detalhes chamam a atenção.
Um deles é a antecedência, uma vez que dessa vez o debate acontece antes mesmo de as convenções dos partidos confirmarem Biden e Trump como candidatos. Outro ponto é o fato de serem ambos os dois candidatos mais velhos da história dos EUA: Biden tem 81 anos e Trump fez 78 agora em junho. Por fim, é o primeiro debate entre um presidente contra um ex-presidente.
Quando o assunto é economia, os principais pontos a observar são propostas e declarações que representem riscos comerciais, cambiais, fiscais e geopolíticos.
Para Rafael Haubrich, head de offshore da Manchester Investimentos, a corrida eleitoral deve trazer “muitos temas polêmicos de difícil implementação”. E que, portanto, o principal é entender que as eleições americanas trazem volatilidade e que o importante é olhar para o cerne das ideias dos candidatos.
“É relevante o investidor ficar atento a ideias centrais e observar os riscos que podem impactar na sua carteira de investimentos”, diz. Um bom exemplo, avalia, é uma proposta de Trump para a Lei de Comércio Recíproco, que pode incluir penalidades ou barreiras tarifárias para países fazerem negócios com os EUA.
O debate Biden e Trump será organizado pela CNN americana. O encontro entre os dois pré-candidatos será transmitido por aqui pela CNN Brasil, a partir das 22 horas.
Em sua volta às urnas após a derrota em 2020, Donald Trump deve reforçar o seu discurso nacionalista. Portanto, esse será um ponto de atenção ao Brasil, que sofreu com taxação das exportações de aço no mandato do ex-presidente.
“O que tem agirá de maneira mais direta sobre o Brasil é que o governo Trump é um governo nacionalista. O Trump pode ser mais protecionista que o próprio Biden. Contudo, vale lembrar que o governo atual também levantou novas taxas recentemente, sobre carros elétricos”, diz Vladimir Maciel, coordenador do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica
O principal ponto da economia americana que interessa ao Brasil, dizem os especialistas, é o rumo da inflação. No entanto, o presidente que governará os EUA, Biden ou Trump, não terá influência direta sobre esse ponto.
“A inflação não é responsabilidade direta do presidente. É responsabilidade do banco central americano, o Fed [Federal Reserve], que é independente”, afirma o professor. No entanto, o tema deve ser trazido ao debate por Trump, que deve usar a inflação para criticar Biden.
“A economia americana tem uma expectativa de desempenho econômico forte, mas a inflação não está sendo debelada nos EUA. Pros padrões americanos, uma inflação de 4%, 5%, é alta”, diz Maciel. “É uma pedra que Trump deve jogar em Biden, que deve responder enaltecendo o crescimento econômico”, avalia.
A alta da inflação nos EUA tem feito o Fed retardar os cortes de juros nos Estados Unidos. Um ponto que vem sendo citado para explicar fenômenos que têm acontecido por aqui, como a alta do dólar no Brasil e incentivos para que o Banco Central brasileiro tenha postura mais cautelosa em cortes na taxa Selic.
De acordo com Rafael Haubrich, o principal ponto para o investidor ao longo de todo esse período é a volatilidade. “Considerando dados históricos, [a volatilidade] tende a aumentar de 3 a 6 meses antes das eleições, trazendo impactos em diversas classes de ativos, juros e moedas ao redor do mundo”.
Nesse ponto entra o fato de termos uma corrida eleitoral mais longa. Trump e Biden derrotaram adversários internos de forma rápida e chegaram ao confronto direto antes do habitual. “Por um lado, a antecipação tende a aumentar a volatilidade dos ativos. Por outro lado, por ser mais longo, pode trazer uma leitura mais aprofundada de como cada candidato tende a se comportar em eventual mandato”, avalia.
Portanto, um período que requer atenção e cuidado. Na parte cambial, Haubrich diz que “historicamente, nos seis meses anteriores às eleições desde 2000, o dólar geralmente se valorizou em relação ao real brasileiro”.
O professor Vladimir Maciel afirma que não deve se esperar algo direcionado ao Brasil, que tenha impacto focalizado por aqui. “Estamos na periferia global. Nós não estamos no radar [de Biden e Trump]”, argumenta.
Para os especialistas, na parte fiscal há quase uma certeza de que, por ambos os lados, a dívida americana deve crescer. “O cenário fiscal de longo prazos dos EUA é complexo. Enquanto um candidato propõe aumentar os gastos [Biden], o outro sugere a redução de impostos [Trump]”, afirma Haubrich.
Na última lista de riscos, o geopolítico, há uma atenção sobre o que Trump vai dizer a respeito das guerras da Ucrânia e da Faixa de Gaza. “Trump tem uma simpatia declarada por Putin e deve contestar que se coloque dinheiro do Tesouro americano em uma guerra dos outros”, diz o professor Vladimir Maciel.
Para Rafael Haubrich, eventuais tensões geopolíticas podem ter impacto global. “Uma eventual mudança na postura dos EUA em relação a sua política externa pode mexer na cadeia de suprimentos, fluxos de capital, padrões de consumo, entre outros possíveis impactos”, diz.
Um dos temas de debate mais frequentes na sociedade americana diz respeito aos candidatos. Donald Trump vem tentando associar Biden, com seus 3 anos e meio de idade a mais, a uma ideia de fragilidade. A abordagem do tema e o desempenho de Biden é algo que deve se observar no debate.
“Biden tem dado sinais de senilidade. Trump vai querer colocar que ele, mesmo sendo apenas 3 anos mais novo, está mais inteiro. Ele vai querer se colocar como alguém que tem mais pulso”, afirma o professor Vladimir Maciel.
Trump também deve se manifestar a respeito da condenação contra ele pela acusação de subornar o silêncio da ex-atriz pornô Stormy Daniels.
Fonte: Inteligência Financeira




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