Era fim de agosto de 2023. Artur Jorge alcançava mais um feito histórico com o Braga: qualificara o clube para a fase de grupos da Liga dos Campeões. Pelo caminho, ficou o Panathinaikos. Mas o treinador português não esqueceu de um jogador grego, que brilhou nas duas partidas: Georgios Vagiannidis. Tanto que indicou o atleta para John Textor, que se aproxima de trazer o lateral para reforçar o Botafogo.
Vagiannidis faz caminho pouco comum para um jogador grego de 22 anos: vai deixar o segundo maior campeão da liga grega para atuar no futebol brasileiro. Para contar os motivos que levaram tanto Artur Jorge a se “apaixonar” pelo lateral quanto Vagiannidis a escolher o Brasil, contamos com a ajuda do jornalista grego Antonis Oikonomidis, do site Sport 24, e do também jornalista Aris Antonopoulos, que escreve para o site Olaprasina1908, principal site de notícias especializado no Panathinaikos.
Jogador das seleções de base da Grécia, Georgios Vagiannidis começou a jogar na base do Panathinaikos. Estreou no time principal no dia 05 de dezembro de 2019, vitória por 2 a 0 sobre o Panachaiki, pela Copa da Grécia. Em 16 de fevereiro de 2020, fez o primeiro jogo na Liga Grega. Marcou um gol e deu uma assistência na vitória sobre o Panetolikos, por 3 a 1.
O protagonismo na base, mostrado, também, em seus primeiros jogos como profissional, chamou a atenção de grandes clubes da Europa. Com várias propostas na mesa, Vagia escolheu a Inter de Milão, mas não ficou por muito tempo. Como explica Antonis Oikonomidis, “foi um passo muito grande e cedo na carreira”.
“Quando ele chegou no time principal, ele negou ampliar o contrato, apesar de uma grande oferta feita pelo Panathinaikos, e aceitou a oferta da Inter (entre várias outras). Ele pensou que faria parte da equipe principal, mas acabou na Primavera (time sub-20). Ele não gostou, então foi emprestado para um clube belga, nunca se adaptou e, sabendo que não teria futuro na Inter, retornou ao Panathinaikos”, contextualizou o jornalista.
De volta para a Grécia, Vagiannidis nunca foi titular absoluto do time. Em 62 jogos desde que voltou, ainda em 2021, fez 36 como titular, somando 3367 minutos em campo. Marcou apenas um gol e deu uma assistência.
“Ele foi um jogador de rotação de elenco. Na última temporada, o Jedvaj jogou como zagueiro, mas ele ficou atrás de Yiannis Kotsiras no time. Teve alguns momentos muito bons, deu profundidade ao elenco”, faz questão de ressaltar Antonis.
Aris Antonopoulos, por sua vez, ajudou a contextualizar o fato de o lateral não ter conseguido ser titular no Panathinaikos, ressaltando a dificuldade para os jogadores jovens de conseguir espaço no futebol grego.
“O Vagia é jovem ainda. Na última temporada principalmente, ele ganhou mais tempo de jogo. Todos os treinadores confiavam nele. Mas há dois problemas aqui: a falta de experiência em um time que luta pelo título da liga e da Copa, e também o fato de jovens jogadores não ganharem espaço facilmente na Grécia. Apesar disso, ele marcou um gol que ajudou o time a ganhar a Copa da Grécia”, contou.
Apesar de Vagiannidis ainda não ter conseguido se firmar como titular absoluto do Panathinaikos, Aris lembra que houve muita gente que pedisse a convocação do jovem para a seleção principal da Grécia.
“Se você me perguntar, ele já poderia ter tido chances na seleção grega. O último técnico da seleção, Gustavo Poyet, recebeu muitas críticas por não chamá-lo. E aí voltamos ao que falamos anteriormente: na Grécia, não é fácil os jovens terem oportunidades”, explicou.
Destacando as características de Vagiannidis, Antonis Oikonomidis ressaltou a ofensividade do lateral grego, mas alertou para alguma ineficiência defensiva.
“Ele é um jogador muito técnico, de velocidade, resistente, eficiente com a bola nos pés, não tem medo de fazer conduções com bola. Ele é mais um ala brasileiro do que europeu. Ele gosta de atacar, ele é muito melhor atacando do que defendendo. É algo que ele precisa melhorar, junto com a parte tática do jogo. Mas isso virá com a experiência”, analisou.
Apesar de não ter se firmado como um titular absoluto do time, Vagia, como destacamos no início, fez duas grandes partidas contra o Braga, nos playoffs da Champions. Antonis Oikonomidis fez um recorte do que mais chamou a atenção de Artur Jorge nos duelos.
“Ele foi espetacular, realmente. Provavelmente, os melhores jogos dele como profissional. De longe o melhor jogador do Pana nesses dois jogos. Pelo que ele fez, é absolutamente aceitável que o (Artur) Jorge tenha se apaixonado por ele. Ele simplesmente não teve falha alguma, uma ameaça constante, muito disciplinado, ótimo defensivamente (algo que já disse que não é sua principal qualidade). Foi pura classe, uma prova clara do jogador que ele pode se tornar”, avaliou.
Antonis, que cobre a transferência para o veículo em que trabalha, também destacou a importância de Artur Jorge para convencer o lateral de aceitar o desafio no Brasil.
“O (Artur) Jorge o convenceu (a mudar para o Brasil). O projeto que foi feito para ele, de desenvolvimento e projeção. Ele vai ser um jogador importante de um time lutando pelo título brasileiro, com um técnico que o ama, e com um caminho bem definido para o retorno para a Europa (Crystal Palace e Lyon). E, claro, tem também a parte financeira. Ele vai ganhar dez vezes mais do que no Panathinaikos”, comentou.
Se vier mesmo para General Severiano, Georgios Vagiannidis será o segundo jogador grego da história a disputar o Brasileirão. O primeiro foi Andreas Samaris, que ano passado defendeu o Coritiba. A transferência é encarada como surpresa na Grécia.
“Ele é um jogador muito talentoso e promissor. Não é algo que estamos acostumados – ver um jogador grego discutir uma transferência para o Brasil. Todos achamos que ele iria para um outro clube europeu, por um valor lógico, já que entra no último ano de contrato. Entretanto, ele preferiu um clube brasileiro”, comentou Antonis.
Aris foi pelo mesmo caminho. Além de ressaltar que o importante no momento é que o lateral busque um time que “o dê muitos minutos e a chance de melhorar defensiva e fisicamente”, o jornalista destaca ainda que as valências ofensivas de Vagia irão se encaixar perfeitamente no Campeonato Brasileiro.
“Apesar de ser muito raro um jogador grego se transferir para a liga brasileira, o Brasileirão é uma liga que cairia bem a ele. Ele é rápido e tem características que encaixam no Brasileirão, acho que ele pode se desenvolver bem lá. (…) Eu considero o Brasileirão uma liga muito importante. Afinal, muitos jogadores saíram do Brasil para performar em alto nível na Europa. Então acho que ele está motivado a jogar no Brasileirão”, arrematou.
Fonte: Ogol
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