VALE3: os motivos das quedas seguidas da Vale e o que esperar da empresa agora?
A Vale (VALE3) completou no pregão da última terça-feira (23) seis quedas consecutivas, descendo de um patamar de R$ 63 para R$ 60,20. Nesta quarta, houve ligeira recuperação. Assim, analistas consultados pela Inteligência Financeira indicam o empilhamento de alguns motivos que justificam a queda da mineradora.
Nesse sentido, sempre que há perda de valor das ações da Vale na bolsa, os olhos dos investidores miram a demanda vinda do oriente. Para o Itaú BBA, por exemplo, a queda da mineradora foi acentuada nos últimos dias após uma piora no sentimento relacionado à economia chinesa, depois da divulgação dos dados do PIB do segundo trimestre.
O PIB do gigante asiático cresceu 4,7% no segundo trimestre de 2024 em relação ao mesmo período de 2023. Esse resultado ficou abaixo da estimativa mediana de 5,1% em uma pesquisa feita pela Bloomberg com economistas.
A área macro do Itaú revisou o crescimento esperado da economia chinesa em 2024 para 4,8% depois da divulgação do PIB. Anteriormente, a projeção era de 5,0%.
“Além de dados ainda fracos em setores que já vinham apresentando crescimento mais lento (por exemplo o de construção civil), há indícios de desaceleração em setores que estavam indo bem, como manufatura, e preocupações com relação à sustentabilidade dos (altos) níveis de exportação”, avalia Daniel Sasson, analista de commodities do Itaú BBA.
Nesse sentido, o minério de ferro caiu de US$ 110 por tonelada no dia primeiro de julho para US$ 101.
Além disso, preços de alumínio e aço chinês também caíram nas últimas semanas, impactando diretamente o preço das ações da Vale e de outras mineradoras e siderúrgicas da bolsa brasileira, que fornecem insumos para as atividades mencionadas na China.
Relatório da Vale, divulgado na semana passada, apontou forte volume de vendas. Contudo, o preço realizado foi mais baixo que o esperado. “Esperava-se US$ 102 por tonelada, veio entre US$ 99 e US$ 98, isso por conta de um mercado que ainda não está com comprador de qualidade”, explica Ilan Abertman, analista de equity research da Ativa Investimentos.
Abertman diz que, neste relatório, o que mais chamou a atenção do mercado foram os prêmios.
“Tal como no primeiro trimestre, os prêmios do minério de ferro vieram negativos, mas, no primeiro período, o prêmio de pelotas (outro insumo vendido pela Vale) foi alto e permitiu balanço positivo, o que não aconteceu desta vez”, relata.
Na noite da quinta-feira, a Vale divulgará seus resultados trimestrais.
Assim, “o foco vai estar nos custos”, diz Abertman. Além disso, os investidores calculam os dividendos, tendo em vista que a Vale os paga em setembro com base nos resultados do segundo trimestre. A projeção da Ativa é de R$ 2,15 por ação.
O embate jurídico entre o estado brasileiro e a Vale ganhou novo capítulo, o que coloca mais um ponto de atenção sobre as ações da empresa.
A Vale ofereceu R$ 140 bilhões como indenização para pagamento em vinte anos. Contudo, o governo quer R$ 164 bilhões em 12 anos. “A solução deve ser algo no meio do caminho”, projeta o analista da Ativa. Segundo matéria da Agência Brasil, o acordo pode estar próximo.
Para Sasson, do BBA, o relatório de vendas, divulgado na semana passada, “veio razoavelmente em linha com o esperado”. Assim, o banco não mudou a projeção de Ebitda para o trimestre, de US$ 4,050 bilhões.
“Do lado positivo, a empresa indicou que está confortável em atingir a parte alta do seu guidance de produção para o ano, cujo range fica entre 310 milhões e 320 milhões de toneladas.
Do lado negativo, houve queda da qualidade média (teor de ferro) no mix de vendas, o que impactou negativamente a realização de preços da companhia”, acrescenta Sasson, em linha com o destaque de Abertman, da Ativa.
Durante a queda do setor de mineração e siderurgia na bolsa, as ações da Vale (VALE3) foram menos afetada que CSN/CMIN e Usiminas, estas, com custos mais altos de entrega para a China “depois de considerados ajustes para umidade e qualidade do portfólio”, ressalta Sasson.
Por outro lado, cerca de 85% do Ebitda da Vale vem do negócio de mineração. Enquanto a CSN (CSNA3) tem 50% e a CSN Mineração (CMIN3), 100%. A Usiminas (USIM5) tem de 15 a 20% do seu negócio relacionado à mineração. Assim, a CMIN é a que mais sofre com as variações negativas do preço do minério de ferro.
Sasson e sua equipe dize quem seguem “confortáveis” com a estimativa anterior para o preço do minério de ferro: US$ 110 por tonelada na média anual. Assim, mesmo com o preço caindo nos últimos dias, na média, o preço da commodity segue dentro da expectativa.
“O que está implícito na nossa estimativa é um preço próximo de US$ 100 por tonelada nos últimos cinco meses do ano, bastante em linha com o spot”, arremata o analista de commodities do BBA.
Para a Ativa, a recomendação é neutra e o preço-alvo está em R$ 75 reais. “Existe sim um desconto frente às (concorrentes) australianas, mas esse desconto só vai ficar menor quando o mercado souber com mais clareza, principalmente, sobre o nível qualitativo da demanda da China”, ressalta Abertman.
Fonte: Inteligência Financeira




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