Cotação do dólar vai de R$ 4,85 a R$ 5,86 em 2024: por que o real é pior moeda do ano?

Cotação do dólar vai de R$ 4,85 a R$ 5,86 em 2024: por que o real é pior moeda do ano?

A desvalorização do câmbio no Brasil colocou o real como a pior moeda do mundo entre as principais do planeta em 2024, tanto de países emergentes quanto de desenvolvidos. Os dados são de um levantamento da consultoria Elos Ayta, que considera os números até o fechamento da semana passada.

O movimento de desvalorização do real se acentuou e o dólar chegou a bater R$ 5,86 durante o pregão da última segunda (5). Vale lembrar que a cotação no início deste ano estava na faixa dos R$ 4,85, como foi no pregão de 12 de janeiro. Isso tudo vai na contramão do que estava no horizonte dos agentes do mercado no início do ano.

Com o real caindo à casa dos R$ 4,80 no final do ano passado, as projeções apontavam para o dólar em queda em 2024. Contudo, mudanças conjunturais empurraram a moeda brasileira para a pior posição do ranking.

Para alguns economistas, a desvalorização do real tão acentuada aconteceu também por um ‘ataque especulativo’. Outros negam essa versão e dizem que fatores locais e externos pesaram sobre o desempenho da moeda brasileira.

Veja algumas razões apontadas por especialistas para a desvalorização do real em 2024.

“A volatilidade recente no mercado cambial brasileiro é mais provavelmente resultado de uma combinação de fatores externos e internos.” A afirmação é de Luiz Felipe Bazzo, CEO do Transferbank.

Ele cita tensões geopolíticas no Oriente Médio, somadas aos temores de uma recessão nos Estados Unidos e à falta de clareza sobre a política fiscal no Brasil. “Isso têm contribuído para aumentar a aversão ao risco. Assim, esses elementos, juntos, criam um ambiente de incerteza que pressiona o real”, diz o executivo.

De mão atadas com relação aos fatores externos, o governo tem sido cobrado por agentes do mercado para trabalhar a questão fiscal. Ainda assim, a promessa de contingenciamento de gastos não tem sido suficiente para conter a desvalorização do real.

Segundo Basso, “há dúvidas sobre a credibilidade e a efetividade das medidas de controle fiscal prometidas pelo governo, o que gera desconfiança no mercado”.

O economista André Perfeito enxerga a situação como um “ataque especulativo” do mercado em relação ao real. Contudo, ele não entende isso como um ato de maldade do mercado, “mas uma situação de consenso entre investidores”.

“O fluxo migra para uma direção que não necessariamente guarda relação com a realidade”, avalia. Assim, “a piora determina a piora”. A análise de Perfeito sobre o ataque especulativo foi feita no início de julho e ponderava sobre uma consequente revisão dos dados de inflação, o que realmente aconteceu. “Ambos vão subir mais, e provavelmente muito mais”, disse. Isso porque a elevação do dólar impacta diretamente o preço de vários itens no país.

André Roncaglia, economista e pesquisador associado do FGV-Ibre, destaca que o Brasil tem uma moeda que pode ser considerada a divisa que é o terceiro espaço de maior especulação monetária no mundo. Isso tem contribuído para a forte oscilação, acima das demais moedas emergentes.

“Só perde [em especulação] para o euro e para o dólar” e, “considerando que é uma moeda periférica”, os efeitos das especulações tendem a ser mais “exagerados”, segundo Roncaglia.

O economista relaciona a recente desvalorização a um “reativismo” à política fiscal do governo. Nesse sentido, ele enxerga que existe um “alinhamento de interesses” do mercado que ajuda a empurrar o real para baixo diante das diferenças de percepções do governo e do mercado sobre a política fiscal do país.

Apesar do anúncio de contenção de gastos, a sinalização do mercado é de que  algo mais efetivo precisa ser feito e que essa contenção pode, no final das contas, não ser feita em sua totalidade.

Basicamente, num ataque especulativo, todo mundo começa a tomar dívida na moeda doméstica e comprar moeda forte. Por exemplo, num ataque contra o real você toma dívida em reais e aplica em títulos públicos americanos.

“Nesse ataque, você vai ganhando dinheiro quanto mais o real se desvaloriza, porque a sua dívida vai ficando barata em dólar, aí você vai ganhando dinheiro aplicando em títulos públicos americanos”, explica Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.

Ele diz não acreditar que a desvalorização do real é caso de ataque especulativo.

“Em geral, você tem um ataque especulativo quando uma única moeda se desvaloriza, e o movimento que a gente está vendo esse ano é que a grande maioria das moedas do mundo se desvalorizando em relação ao dólar, então eu não acho que isso configure um ataque especulativo contra o real”, diz o economista do Master.

Para ele, trata-se de um movimento de juro alto nos Estados Unidos, por conta de temor de inflação que acabou atraindo recursos para os Estados Unidos. Ele menciona ainda temores do mercado sobre a eleição do novo presidente do Banco Central para 2025 e também a questão fiscal como agravantes, embora os veja como questão mais laterais.

“À medida que esses temores vão se dissipando, eu acho que a moeda brasileira vai se valorizar”, avalia.

Para Gala, quando o Fed começar a cortar juros, o que o mercado espera para setembro, os recursos vão começar a refluir para o mundo emergente, Brasil inclusive. “Quando o juro começa a cair nos Estados Unidos, o cenário melhora bem para o Brasil”, avalia.

Na visão do economista, o BC brasileiro está aguardando a decisão do Fed para ver como o corte de juros do FED vai refletir no Brasil. “A moeda deve se apreciar para R$5,50, a bolsa deve se recuperar um pouco, os juros longos devem cair”, avalia.

“Então, o segundo semestre, com o corte de juros nos Estados Unidos, deve melhorar o cenário para o Brasil e valorizar a moeda brasileira”, complementa.

 

Fonte: Inteligência Financeira

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