Na década em que os sonhos se afastam cada vez mais do coração, com contratos milionários longe de casa falando mais alto, ainda há espaço para histórias de amor no futebol brasileiro. Jogar pelo time da cidade, diante de sua família, naquele estádio que praticamente virou sua casa. Naquela camisa que virou, de fato, a sua pele. No escudo que bate no mesmo ritmo do seu coração. Claudinho e Criciúma vivem uma história de amor, até que as urgências do século XXI interrompam essa relação.
Claudio Coelho Salvático é natural de Nova Veneza, município catarinense fundado por imigrantes do norte da Itália. Seu dom com a bola nos pés e a proximidade entre a cidade e Criciúma estreitaram os laços de Claudinho com o futebol. De família carvoeira, Claudinho chegou muito jovem nas categorias de base do Criciúma.
Lá, como diz, se formou “como homem”, conquistou títulos na base e foi, também, se formando como jogador. Inicialmente, como atacante. Até virar lateral aos poucos.
Sua iniciação profissional, porém, quase foi longe de casa. Em 2020, quando ainda não havia estreado nos profissionais, foi emprestado ao time sub-20 do Atlético Mineiro depois da Copinha. Jogou como meia o Brasileiro e a Copa do Brasil sub-20. Estreou com gol e assistência contra o Botafogo. Ia bem, até uma lesão interromper sua sequência e mudar seu destino.
“Tive uma lesão, quebrei a clavícula, fiquei quatro meses parado, estava bem, mas a lesão atrapalhou um pouco. Depois mudou a diretoria, deu uma atrasada no processo e tive de voltar para o Criciúma”, recorda, em conversa com a reportagem de oGol.
O destino, na verdade, só estava escrevendo “certo por linhas tortas”. Claudinho voltou para casa e, no Tigre, estreou como profissional no dia 04 de abril de 2021, empate em 1 a 1 diante do Marcílio Dias, em Itajaí.
O Criciúma estava na Série C. Claudinho nunca mais saiu do time titular. Se tornou um dos pilares do time que tirou o clube da terceira para a primeira divisão nos anos seguintes, com acesso para a Série A em 2023.
“Foi uma bela campanha, o acesso em casa. Conquistamos ainda o Catarinense, que o clube não conquistava há muito tempo. Sempre tive o sonho de jogar a Série A, e no clube do meu coração, clube que amo, onde me formei, é muito especial. Ainda mais estar perto da minha família toda, perto de casa”, contou.
Ano passado, Claudinho marcou quatro gols e deu duas assistências. Foi um dos destaques no título catarinense e na campanha do acesso pela ofensividade. Sua versatilidade na base foi importante para o desempenho no último terço. “Isso ajuda, quando chego no ataque, eu mais ou menos já sei o que vou fazer”, comentou.
O lateral ressaltou ainda mais seu lado ofensivo em 2024: já são 11 participações em gol na temporada, com cinco gols e seis assistências em 40 jogos. O bom desempenho, claro, chamou a atenção de outras equipes, que tentaram interromper a história de amor entre Claudnho e Criciúma. Sem sucesso até aqui.
“Nunca cheguei a ficar perto de sair. Claro que recebi sondagens de outros clubes, mas, de fato, proposta, não chegou nenhuma na minha mesa”, garantiu o lateral.
O foco de Claudinho é manter o Criciúma na Série A do Brasileirão. Com a derrota para o Fortaleza, no fim de semana, o Tigre ficou a três pontos do Z4, em 14º lugar.
“O maior objetivo da temporada é a permanência. Clube que vem da Série B, no primeiro ano, é sempre permanecer, nosso objetivo não é diferente”, garantiu.
Para isso, Claudinho conta com a ajuda de Yannick Bolasie, atacante que deixou a Europa para iniciar uma nova vida no Brasil. Claudinho destacou a humildade do jogador, nascido em Lyon, na França.
“Claro que a gente sempre quer jogadores bons ao nosso lado. Primeiro contato com ele foi bom, ele falava só inglês, não entendi muito (risos). Mas quando a gente vê a pessoa, e sabe que ela é humilde, tudo fica mais fácil. É um cara tranquilo, gente boa, feliz. Gosta de dançar, brincar, zoar. Gosta de resenha. Um cara humilde. A gente aprende vendo os vídeos dele, resenhando com ele, durante o treinamento, jogo, no próprio convívio”, destacou.
Como Bolasie, Claudinho é um exemplo fora da curva no futebol moderno. Histórias que nos remetem a essência do jogo. Onde o domingo de futebol é perto de casa, pelo clube do coração. No futebol milionário, ainda há espaço para o “romantismo carvoeiro”.
Fonte: Ogol
Comentários