Uso de Agrotóxicos em Mato Grosso do Sul Levanta Preocupações sobre Contaminação dos Rios
Enquanto Mato Grosso do Sul expande sua produção de grãos, com um aumento de 8% na área tratada com defensivos agrícolas durante a safra de 2023, surgem preocupações sobre a falta de dados oficiais relacionados à presença de agrotóxicos nos rios do estado. Esse “ponto cego” impede o monitoramento preciso das substâncias presentes nas águas e se elas estão dentro dos limites aceitáveis.
Atualmente, a presença de pesticidas nas águas de Mato Grosso do Sul só é revelada por meio de pesquisas realizadas por organizações não governamentais, que dependem de recursos próprios para financiar tais estudos. O Rio Dourados é o único corpo de água no estado que recebe monitoramento sistemático e anual sobre a presença de herbicidas, pesticidas e fungicidas, em um trabalho realizado pela Embrapa Agropecuária Oeste.
Recentemente, o Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) reconheceu em uma nota que não possui equipamentos específicos para monitorar defensivos agrícolas, em resposta aos dados divulgados pela Fundação Neotrópica do Brasil. O Imasul realiza um extenso trabalho de avaliação dos rios, percorrendo 10 mil quilômetros por mês para analisar a qualidade dos corpos hídricos, mas essa análise não inclui defensivos agrícolas.
Em relação à previsão de monitoramento da presença de agrotóxicos nos rios do estado, o Imasul não respondeu aos questionamentos até o momento.
Controvérsias e Desafios no Monitoramento
Em uma reunião do Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comdema) em Bonito, a Fundação Neotrópica do Brasil corrigiu informações sobre a presença de agrotóxicos no Rio Formoso, esclarecendo que os defensivos estavam presentes em seus afluentes, como o Rio Mimoso e os córregos Anhumas e Bonito. A análise revelou a presença de oito tipos de defensivos no Córrego Anhumas, onde, por ser classificado como corpo hídrico de classe especial, a presença de qualquer agrotóxico é proibida.
Por outro lado, o Imasul identificou inconsistências no relatório da Neotrópica, como a ausência de datas e metodologia de coleta das amostras, o que, segundo o instituto, compromete a precisão dos dados. Além disso, destacou que o laboratório utilizado para as análises não é acreditado para análise de defensivos agrícolas em água.
Impactos na Saúde e no Meio Ambiente
Estudos recentes indicam a presença de agrotóxicos em outros corpos d’água do estado, como no Rio Santo Antônio, afluente do Rio Miranda, onde foram detectados altos níveis de substâncias tóxicas, incluindo o fungicida carbendazim, proibido no Brasil desde 2022 devido ao seu potencial de causar câncer e prejudicar a saúde reprodutiva.
Outro estudo, o “Dossiê Águas do Cerrado”, revelou a presença de agrotóxicos no Assentamento Eldorado II, em Sidrolândia, incluindo substâncias como 2,4D, atrazina e glifosato, todas associadas a efeitos prejudiciais à saúde, como desregulação endócrina e potencial cancerígeno.
Conclusão
A falta de monitoramento oficial e consistente sobre a presença de agrotóxicos nos rios de Mato Grosso do Sul levanta preocupações sobre os impactos desses defensivos no meio ambiente e na saúde pública. A necessidade de um monitoramento mais rigoroso e transparente é essencial para garantir a segurança das águas e a proteção das comunidades que dependem desses recursos.




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