Nenhum roteirista de Hollywood seria capaz de escrever os roteiros de Botafogo e Palmeiras nos últimos anos. Nenhum matemático, físico, nenhum homem da ciência seria capaz de racionalizar o que aconteceu em campo entre essas duas equipes. Mais uma vez. O roteiro parecia se repetir: o Botafogo abriu boa vantagem, de dois gols no jogo, do Allianz Parque, e três na eliminatória. O Palmeiras foi lá e igualou tudo. Foi para a pressão final. Mas futebol não é, simplesmente, a soma de 2 + 2. É o esporte do inacreditável, do impensável, do apaixonante, que desafia o lógico, quebra as regras e dita seu próprio caminho. Dessa vez, o final foi diferente. Afinal, há coisas que só acontecem ao Botafogo. O Verdão teve um gol anulado e uma bola no travessão já nos acréscimos. O Glorioso enterrou um trauma no gramado do Allianz Parque e, com empate em 2 a 2, se garantiu nas quartas de final da Libertadores. Os Deuses do Futebol, dessa vez, foram alvinegros.
Depois de ter vencido no Rio, o Alvinegro teve bons momentos em São Paulo e poderia, na verdade, ter conquistado a vaga com menos drama. Mas o caos dos encontros com o Alviverde predominou. Dessa vez, porém, com um final diferente. O Bota avança, e agora aguarda nas quartas quem passar do duelo entre Nacional, do Uruguai, e São Paulo, que empataram em Montevidéu no jogo de ida.
O Botafogo não se limitou a defender. Foi, inclusive, o primeiro a assustar. Se Igor Jesus não conseguiu completar cruzamento, Gregore ficou com a sobra fora da área e bateu de canhota, sem acertar o alvo. No ataque seguinte, Savarino recebeu pelo meio e mandou colocado. Wéverton não chegaria, mas a bola pegou no poste.
O Palmeiras, de Abel Ferreira, voltava a atuar em 4-3-3. Mas não apresentava uma transição ofensiva eficaz. Sofria com a pressão alta do rival e, quando conseguia avançar um pouco no campo, geralmente parava no isolamento de seus homens de frente. Estêvão tentava desequilibrar no individual, mas sempre que chegava na área Bastos ou Barboza conseguiam contê-lo.
Aos 23 minutos, finalmente com companhia pela direita, Estêvão abriu para passagem de Richard Ríos. O colombiano cruzou na medida para Flaco, que entrou livre na pequena área, em rara desatenção de Bastos. Só que o atacante mandou cabeçada por cima do travessão.
O Glorioso perdeu um pouco o controle do jogo, que mudou de mãos. Richard Ríos conseguiu outra boa jogada pela direita aos 32, e Bastos, ao tentar cortar o cruzamento, assustou Jhon. No ataque seguinte, Richard Ríos cortou para a canhota e tentou cruzamento, dessa vez quase encobrindo Jhon.
Os ataques palmeirenses pela direita não cessaram. Aos 39, Estêvão viu a ultrapassagem de Marcos Rocha e deixou com o lateral na área. Rocha bateu cruzado, e Jhon, com grande defesa, evitou o gol. O Verdão mandou no jogo depois dos 20 minutos, mas não conseguiu o gol.
O segundo tempo começou com pressão palmeirense. Logo no primeiro lance, Barboza vacilou na frente de Estêvão, que deixou com Flaco na área. O argentino bateu de canhota, e Jhon foi no alto fazer grande defesa.
O Botafogo saiu das cordas com o homem que entrou no lugar de Luiz Henrique: Matheus Martins. O ponta brigou com a defesa adversária pela direita, e abriu na área para Savarino. Já desequilibrado, o venezuelano deixou no meio para Igor Jesus empurrar para a rede.
Abel respondeu ao gol com Rony e Menino nas vagas de Rocha e Richard Ríos. Só que o Alvinegro praticamente matou o jogo logo na sequência: Matheus Martins, dessa vez, apareceu pelo meio e deixou Savarino na cara do gol. O chute foi forte, e Wéverton não conseguiu evitar a passagem da bola, que explodiu a rede.
Com a entrada de Tchê Tchê, Artur Jorge montou uma trinca no meio e colocou Savarino para ajudar Hugo na recomposição pela esquerda. Mesmo com uma montanha para escalar, o Alviverde não deixou de pressionar e foi para cima. Rony tentou de bicicleta, de fora da área. Ficou na ameaça. Assim como o terceiro gol botafoguense, em cabeçada de Tiquinho que passou raspando o poste.
Já aos 41, o Palmeiras conseguiu um gol: Menino cobrou falta na área e Flaco marcou de cabeça. Ainda dava tempo? Rony disse que sim, e empatou aos 44 ao ficar com sobra de bola na canhota da área. Faltava um gol. A torcida alvinegra já viu esse filme. A alviverde, também. Ambas prenderam a respiração no fim.
O final quase se repetiu. Após um bate e rebate danado na área, Lázaro tentou chute, e a bola sobrou para Gustavo Gómez, que mandou para a rede. Déjà vu. O Allianz Parque foi ao delírio. Mas um detalhe acabou impedindo a confirmação do gol: a bola pegou no braço de Gómez. O árbitro foi no VAR, e confirmou a mão, anulando o lance.
Mas não acabou por aí. O jogo foi longe. Lembre-se: o gol de Rony saiu aos 44. Na última bola, Ponte entrou com pé alto e fez falta na entrada da área. Menino recebeu bola rolada e soltou a pancada. Jhon ficou olhando. Rezou. O tempo parou. O lance poderia decretar, mais uma vez, a derrocada alvinegra na temporada. Como ano passado. Poderia significar a quebra do ânimo da equipe. Mas o trauma, dessa vez, foi enterrado de vez. Não houve virada no fim. As preces de Jhon foram atendidas: a bola foi no travessão. Não entrou. O botafoguense pôde respirar aliviado. O detalhe que culminou no trauma de 2023, dessa vez, foi capaz de enterrá-lo.
Com explicar que a bola não entrou? Ou que a que entrou não valeu por um pequeno detalhe? Há coisas que só acontecem ao Botafogo. Podemos dizer que, dessa vez, os Deuses do Futebol foram alvinegros. A Estrela Solitária brilhou, e vai continuar brilhando na Libertadores.
Fonte: Ogol
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