Treinamento do Exército que matou recruta teve fome, sede extrema e humilhações

Justiça Militar denuncia 11 militares por abuso, maus-tratos e negligência em exercício de campo

A morte do soldado Vinícius Ibañez Riquelme, de 19 anos, durante um treinamento militar em Bela Vista (MS), trouxe à tona a realidade brutal enfrentada pelos recrutas do Exército. Conforme decisão da Justiça Militar, o jovem foi submetido a condições extremas de privação de água, alimentos e práticas abusivas, que culminaram em sua morte por exaustão. A denúncia envolve 11 militares, incluindo o comandante do regimento, coronel Kenji Alexandre Nakamura.

O exercício de campo, ocorrido entre 22 e 26 de abril de 2024, impôs aos recrutas privação severa de necessidades básicas, além de castigos degradantes. Vinícius, que desde o segundo dia apresentava sinais de saúde debilitada, caiu de exaustão, teve ferimentos no rosto e sofreu desidratação severa. Relatos de testemunhas apontam que outros recrutas também sofreram agressões e maus-tratos, levando o Ministério Público Militar a aprofundar as investigações.

De acordo com o juiz federal Jorge Luiz de Oliveira da Silva, a condução do treinamento foi marcada por violação das instruções oficiais e ausência de suporte médico adequado. Recrutas foram forçados a consumir alimentos crus, rastejar sob punição e enfrentar humilhações constantes, como chutes e tapas. Vinícius chegou a ficar um dia sem comer por castigo, e quando buscou ajuda médica, encontrou uma enfermeira que desencorajava os soldados a procurar atendimento.

A morte de Vinícius foi atestada como consequência direta dos exercícios rigorosos e da negligência por parte da equipe de instrução. Os responsáveis pela operação serão julgados por crimes e transgressões disciplinares, e a tragédia reacende o debate sobre a supervisão e os limites dos treinamentos militares no Brasil.

A família do jovem e a sociedade aguardam justiça enquanto o Exército permanece sob escrutínio.

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