A quarta-feira marcará a estreia da Uefa Conference League, terceiro escalão do futebol europeu que promete, mais uma vez, acalentar os fãs mais atentos do futebol com histórias curiosas, ampliando o repertório cultural de quem acompanha a bola em jogo na Europa. A dicotomia do campeonato apresenta desde um antigo campeão da Europa, o Chelsea, que luta por recuperar o protagonismo internacional, a um clube viking na “isolada” Reykjavík. Um clube fundado por crianças há mais de 100 anos, e que é objeto especial nessa matéria.
Antes de falar de futebol, um pouco de cultura viking. Ingólfur Arnarson é considerado, pelo Landnámabók, livro medieval que trata do descobrimento da Islândia por parte dos vikings nórdicos, o grande “pai” da Islândia. Teria deixado a Noruega por disputas familiares e políticas e partiu em busca de um novo território para colonizar. Navegou até avistar a baía fumegante, em islandês, Reykjavík. Assim batizou a cidade, famosa por suas fontes termais.
O ano de fundação oficialmente aceite no Landnámabók é 874. Com a cultura viking, Reykjavík prosperou ao longo dos séculos. Criou suas proprias especificidades. Aproveitou as fontes termais para explorar a energia geotérmica. Se tornou referência no turismo, com suas paisagens únicas e fenômenos naturais singulares, da aurora boreal ao sol da meia noite. Mas quem diria que, um dia, se tornaria, também, reconhecida pelo futebol…
O Víkingur Football Club, que recebeu tal nome como homenagem aos descobridores nórdicos, foi fundado em 21 de abril de 1908. Foi um dos primeiros clubes de futebol da Islândia, e foi fundado por um grupo de crianças.
Para se ter uma ideia, o presidente do clube foi Axel Andrésson, de apenas 12 anos. Emil Thoroddsen, de 9, era o secretário, e Davíð Jóhannesson, 11 anos, o tesoureiro. No total, 32 crianças foram as responsáveis por fundar a equipe, no porão da casa de Emil. A decisão surgiu quando, em um dia ensolarado, os meninos fizeram uma vaquinha para comprar uma bola para jogar.
Obviamente, os fundadores do clube não tinham idade para jogar profissionalmente. Só uma década depois, após atuar esses anos no futebol de base, o clube disputou o Campeonato Islandês, após uma junção com o Knattspyrnufélagið Knöttur.
Os anos de prática fizeram os meninos chegarem preparados na elite do campeonato nacional, com direito a uma goleada por 5 a 0 diante do Valur, que seria o eterno rival do clube, logo no ano de estreia. Em 1920, o Vikingur conquistou o primeiro título nacional da história, com média de idade de 18,4 anos, feito repetido em 1924, há 100 anos.
Pouco antes dos primeiros títulos nacionais, dois jogadores do Vikingur, Páll Andrésson, um dos fundadores, e Óskar Norðmann, que seria presidente do clube, prefeito da cidade e um renomado artista e empresário de sucesso, foram chamados para formar um combinado islandês que recebeu o primeiro desafiante internacional: o Akademisk Boldklub, da Dinamarca. Vitória islandesa por 4 a 1.
Anos mais tarde, em 1930, em um torneio nas Ilhas Faroe, Tómas Pétursson, do Víkingur, marcou o primeiro gol oficial de um islandês em solo estrangeiro durante a excursão de outro combinado islandês.
A seleção islandesa só teria, oficialmente, iniciado atividades na década de 1940. Em 1946, foi registrado o primeiro amistoso oficial, contra, claro, a Dinamarca. Brandur Brynjólfsson, do Víkingur, foi o primeiro capitão, e teve ao lado seus companheiros de clube Haukur Óskarsson e Anton Sigurðsson. O duelo acabou 3 a 0 para os dinamarqueses, gols de Karl Aage Hansen, Kaj Christiansen e Jorgen Sorensen.
Depois do início de glórias, com dois títulos seguidos de um time jovem, e alguns vice-campeonatos ao longo da década de 1920, o Víkingur ficou quase seis décadas sem ser campeão nacional. Nas décadas seguintes, o clube sofreu com falta de estrutura, já que demorou para ter uma sede própria; com o foco em outras atividades esportivas, como o handebol; e com a dificuldade no recrutamento de jovens jogadores na região central da cidade.
Em 1981, porém, o Víkingur voltou a ser campeão islandês. Superou o Fram Reykjavik, com um final de liga eletrizante. No ano seguinte, disputou a primeira Liga dos Campeões na história do clube, mas caiu na primeira fase para a Real Sociedad. Eliminado, caiu para a Copa Uefa, hoje Europa League. Foi goleado pelo Bordeaux na ida e na volta, por 4 a 0. Bicampeão nacional, o clube voltou para a Champions no ano seguinte, mas caiu para o Gyori Eto, da Hungria, novamente na primeira eliminatória, com duas derrotas. Desde então, os vikings só conseguiram jogar fases classificatórias de campeonatos europeus.
O único clube islandês que conseguiu ir além foi o KR Reykjavik, que avançou até as oitavas de final na temporada de 1964/65. A eliminação foi para o Liverpool, com duas goleadas e 11 a 1 no agregado.
Líder do atual campeonato islandês, campeão da Supercopa, o Víkingur Reykjavík deixou pelo caminho nas fases eliminatórias o Egnatia, da Albânia; o Flora, da Estônia; e o Santa Coloma, de Andorra, para se garantir na fase de liga da Conference League. Assim como a Champions e a Europa League, a Conference terá uma fase inicial em formato de pontos corridos onde as equipes se enfrentam em busca de vagas no mata-mata. O Víkingur estreia nesta quarta-feira, às 13h45, no Chipre, contra o Omonia. O primeiro jogo do torneio em solo islandês, no modesto estádio Víkingsvöllur, com capacidade para pouco mais de mil pessoas, será no dia 24 de outubro, contra o Cerle Brugge, da Bélgica.
Fonte: Ogol
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