O Paris Saint-Germain pode acabar eliminado na primeira fase da Liga dos Campeões. No novo formato do torneio, a fase de liga classifica 24 equipes pelo menos aos playoffs (oito vão direto para as oitavas). Em 25º, o PSG estaria eliminado hoje. O que seria não apenas uma das grandes zebras da história da Champions, mas a constatação do fracasso de todo um projeto esportivo.
Quando, em 2011, o Qatar Sports Investments comprou o PSG, o objetivo parecia claro: tornar o clube uma potência no esporte. Os olhos do mundo teriam de se voltar ao PSG e, consequentemente, ao Catar, já que o QSi é um fundo estatal que visa aumentar a influência global do país.
A presença de grandes nomes, verdadeiras marcas globais, se tornou a primeira ambição do grupo. Ao mesmo tempo em que começou a “investir” em sul-americanos com potencial futuro, como Pastore e Lucas Moura, o PSG abriu as portas da capital francesa para nomes renomados do mundo da bola. Em 2012, chegaram Zlatan Ibrahimovic e Thiago Silva, ex-companheiros de Milan. Edinson Cavani, ex-Napoli, veio depois, seguido de Ángel Di Maria, David Luiz e companhia.
O projeto atingiu outro patamar quando tirou Neymar do Barcelona em 2018 por 222 milhões de euros, na maior transferência da história do futebol. Mbappé veio do Monaco por 180 milhões e, mais tarde, Lionel Messi, um dos maiores de todos os tempos, formaria o trio de ataque com brasileiro e francês.
O PSG se transformou, ao longo dos anos, em uma marca global. Dentro de campo, conquistou a esperada soberania no futebol francês, já que nenhum outro clube conseguia investir tão forte no mercado.
Desde a temporada 2011/12, o PSG já ganhou a Ligue 1 em dez ocasiões. Apenas Montpellier (2012), Monaco (2017) e Lille (2021) conseguiram atrapalhar a dinastia. Se até o título de 2013 os parisienses só haviam conquistado o Campeonato Francês duas vezes, agora já são 12 títulos. Na atual temporada, depois de 12 rodadas, o PSG tem seis pontos de frente para o vice-líder, Monaco.
Soberano em casa, o clube de Paris fracassa justamente no grande objetivo do grupo: levar a marca ao topo da Europa com o título da Liga dos Campeões. A eliminação na primeira fase deste ano seria a “cereja do bolo dos fracassos internacionais”.
Até o investimento árabe, o PSG já havia disputado a Champions cinco vezes. A melhor campanha havia sido na temporada 1994/95. O time de Ricardo Gomes, Valdo, Raí e do craque George Weah caiu apenas na semifinal para o Milan, que perderia a final para o Ajax.
“Milionário”, o PSG voltou para a Liga dos Campeões em 2012/13. Foi naquela temporada que começou a “maldição” das quartas para a equipe, eliminada quatro anos seguidos nas quartas de final. Só que os três anos seguintes foram piores, com queda nas oitavas.
A eliminação mais traumática, com cara e forma de fracasso, foi em 2016/17. Após vencer por 4 a 0 na ida, o PSG acabou goleado por 6 a 1 pelo Barcelona, no Camp Nou, com dois gols e uma assistência de Neymar a partir do minuto 43.
O fracasso levou a uma injeção extra de investimento e o PSG tirou Neymar do Barcelona, para formar um ataque com o brasileiro, Mbappé e Di Maria, tão acostumado a brilhar no torneio pelo Real Madrid. Na terceira temporada de Neymar como grande estrela do projeto do PSG e do QSi, o PSG chegou na final da Champions. Mas não conquistou o título: foi derrotado pelo Bayern de Munique em Lisboa, no ano em que a decisão foi jogada diante de um estádio vazio, por conta da pandemia.
Neymar, Mbappé e depois Messi não conseguiram mudar o panorama nos anos seguintes, deixaram Paris sem o título europeu. Nasser Al-Khelaifi, em mais uma correção de rota, mudou por completo o perfil dos reforços: sem galácticos, o projeto diversificou o investimento com foco em outros mercados e, também, em outro perfil de jogador.
Desde que Mbappé decidiu se mudar para o Real Madrid, o PSG apostou em franceses promissores, como Barcola, Doué, Ekitiké e Kolo Muani. Outro francês que chegou foi Dembélé, fazendo as cifras para contratação de jogadores locais superarem a marca de 250 milhões de euros.
A nova etapa do projeto esportivo parisiense visa dar mais protagonismo ao jogador local, e aproveitar melhor os jogadores formados em casa. Warren Zaïre-Emery é uma das novas caras do projeto e, aos 18 anos, já soma 89 jogos como profissional no PSG.
No mercado internacional, o PSG apostou em jogadores de clubes e mercados emergentes, quase sempre jovens. Ugarte chegou do Sporting, Gonçalo Ramos do Benfica, Lee do Mallorca, Beraldo do São Paulo, Safonov do Krasnodar…
Com uma “nova cara”, com média de idade de 23 anos, o PSG vive o pior início de Liga dos Campeões da história do clube. Em cinco jogos, o time venceu apenas um, empatou outro e perdeu três. A única vitória foi na estreia, um magro 1 a 0 diante do Girona, em Paris.
Derrotas para Arsenal, Atlético de Madrid e Bayern de Munique, e empate contra o PSV colocaram o PSG em 25º na tabela, posição que pode piorar a depender dos resultados de quarta. Girona, Shakhtar Donetsk e Stuttgart ainda podem passar os parisienses caso pontuem, e o PSG pode cair ao 28º lugar.
Para avançar pelo menos aos playoffs, o PSG terá de buscar recuperação em uma tabela que não é nada tranquila. Nas últimas três rodadas, os franceses jogarão duas delas fora de casa, contra rivais diretos na busca da vaga: Red Bull Salzburg e Stuttgart. O único jogo em casa será contra o Manchester City. O técnico Luis Enrique se mostra confiante.
“Em vez de focar nas três derrotas, prefiro falar sobre os três jogos que ainda temos para disputar, três finais. Perdemos muitos pontos em casa contra equipes que jogaram pior do que nós. Vamos ao ataque”, declarou em coletiva.
Fonte: Ogol
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