Em quatro meses na temporada 2024/25, com apenas 13 jogos, Matheus Cunha igualou a quantidade de gols que marcou pelo Atlético de Madrid em 54 partidas: 7. Mesmo se comparado com seus primeiros meses na Premier League, o brasileiro soma mais gols e mais assistências: na metade da temporada 2022/23 que defendeu os Wolves, fez dois gols e duas assistências em 20 jogos, contra 7 gols e 3 assistências agora. O motivo não é apenas um, mas há um principal: a mudança de posicionamento do jogador.
Quando observamos atletas com performances que destoam em diferentes contextos, dificilmente buscamos motivos complexos. Geralmente, na superficialidade das análises de parte da mídia, e no imediatismo do dia a dia do futebol, é preferível cair nas tentações de termos como: “jogador fraco”, “corpo mole”, “sem vergonha”, “desinteressado”. Mas será isso, de fato, o que altera a performance de um atleta?
A matéria é sobre Cunha, e não vamos fugir, então, do centro dela. Mas o brasileiro é o exemplo claro de que como uma adaptação tática em esquemas menos favoráveis pode ser a diferença entre uma performance de alto nível e uma abaixo do esperado. Vamos olhar para o Atlético de Madrid, de Diego Simeone?
Bem, que acompanha minimamente os Colchoneros entende que Simeone atua com dois homens de frente, seja em um 4-4-2, escalação mais padrão, ou 3-5-2, quando busca mais jogo pelas alas. A dupla de ataque é fundamental na pressão alta, e também deve se complementar em termos de características para que as coisas funcionem.
Em Madri, o parceiro de ataque mais comum nos jogos em que Cunha foi titular foi Antoine Griezmann. O francês é um atacante criativo, que gosta de vir muito por trás das jogadas, da direita para dentro. Cunha tem como característica fazer o mesmo, mas do outro lado… A dupla pouco funcionou e na única temporada completa do brasileiro na capital espanhola, a equipe ficou a 15 pontos do campeão de La Liga, Real Madrid, e Cunha fez apenas oito jogos como titular no campeonato (e nove na temporada). O brasileiro marcou sete gols e deu quatro assistências (números quase idênticos aos da temporada atual, que não chegou nem na metade).
No início pelo Wolverhampton, Matheus Cunha pareceu encontrar situações parecidas. Primeiro no 4-3-3 de Julen Lopetegui. Em seguida, Gary O’Neil alternou do 4-4-2 para o 3-5-2 na primeira temporada no clube. Cunha foi ganhando protagonismo aos poucos, mas se encontrou, de fato, depois de o treinador mudar o esquema para 3-4-2-1 na organização ofensiva. Algo parecido com que Dorival Júnior fez nos últimos jogos da seleção.
A mudança de esquema foi necessária para buscar alternativas a um time que afundava na temporada. Os Wolves haviam ido para a Data Fifa de outubro com cinco derrotas seguidas, e sem vencer qualquer jogo no Campeonato Inglês.
No último jogo antes da parada, o time voltou ao 4-3-3 de Lopetegui, com Matheus Cunha aberto na ponta canhota. Derrota por 5 a 3 para o Brentford. O Wolverhampton era o lanterna da Premier League, com apenas um ponto em sete rodadas. A escolha pelo 3-4-2-1 trouxe mais combatividade ao time, com superioridade no corredor central, e ressaltou o que Matheus Cunha tem de melhor.
Matheus Cunha é um jogador raro no futebol. É ponta? Não. Centroavante? Tampouco. Tem um pouco de Roberto Firmino, mas com uma área de atuação mais específica, da canhota, sem dar amplitude, para o meio. Passou a formar uma dupla de meias (muitas vezes com Pablo Sarabia) atrás do atacante Strand Larsen. E cresceu.
Desde a parada para a Data Fifa e a mudança de O’Neil, Cunha marcou quatro gols e deu três assistências em cinco partidas. O Wolverhampton vem de duas vitórias seguidas e só perdeu, no período, para o Manchester City, e competindo até o fim.
O bom momento tem a ver com o crescimento de Matheus Cunha, que tem espaço para, na zona do campo que decide mais, usar sua criatividade. Segundo números da Premier League, o brasileiro é o jogador, entre os 15 mais influentes em gols da liga, com o maior número de dribles com sucesso (22).
Cunha é, também, o jogador com mais progressões com bola dos Wolves, avançando sempre da canhota para o meio. Na liga, é o único atleta da temporada com três gols de fora da área, sendo decisivo para o time, também, nos arremates de longa distância.
Na atual temporada da Premier League, o único jogador a ter mais gols que Cunha sem contar cobranças de pênalti é Erling Haaland (11). Todos os sete gols do atacante dos Wolves foram com bola rolando.
Enquanto Matheus Cunha sobe na tabela de artilheiros, o Wolverhampton cresce na Premier League e já saiu da zona de rebaixamento, agora com nove pontos. No “mês” perfeito de Matheus Cunha e companhia, a Premier League ganhou um novo protagonista.
Fonte: Ogol
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