A vitória de Donald Trump com números tão expressivos deu ao mundo apenas dois meses e meio para se preparar para um novo mandato cheio de quebras de paradigmas. Do outro lado do Atlântico, os europeus sabiam que uma nova era Trump significaria mudanças ainda mais radicais nas relações entre esses aliados históricos. A problemática que já foi vivida em várias esferas entre 2017 e 2021, agora parece tomar corpo em diferentes frentes, não sendo apenas um desafio para o futuro, mas principalmente para o presente. Os dilemas europeus com Trump podem, então, se dividir em duas ramificações, os dilemas práticos do cotidiano de relações bilaterais e os dilemas eleitorais, que trarão uma imensa onda conservadora para o continente.
A relação transatlântica no pós Segunda Guerra, foi marcada pelo estabelecimento da confiança através da reconstrução. O plano Marshall financiado pelos americanos reergueu a Europa ocidental das cinzas da guerra mais mortal da história e construiu os alicerces para a OTAN e tantas outras instituições regionais e globais com valores ocidentais compartilhados. Entre democratas e republicanos, os europeus aprenderam a navegar com a certeza que a aliança que os uniam aos americanos, era mais forte que as brigas ideológicas internas nos Estados Unidos. Essa premissa foi válida por quase sete décadas, até a chegada de Trump em 2017. A saída do Acordo de Paris, a indiferença mostrada à OTAN e os laços pouco cultivados em seu primeiro mandato, fizeram de Trump uma figura pouco querida no continente de seus antepassados. Apesar das dificuldades, com a liderança forte de Angela Merkel e com a destreza de uma diplomacia bem estruturada, os tempos turbulentos das relações transatlânticas, pareciam ter ficado para trás sem grandes sequelas.
O retorno de Trump em 2025 vem acompanhado não apenas de uma mentalidade republicana diferente, mas de um mundo profundamente alterado em sua composição geopolítica. A Guerra da Ucrânia, a guerra no Oriente Médio, as tensões na Península da Coreia e no Estreito de Taiwan, escancaram um realinhamento de forças ainda não observado desde o fim da Guerra Fria. O apoio de Joe Biden à Ucrânia, falando a mesma língua dos europeus, foi algo reconfortante inicialmente, dando aos ucranianos a retaguarda de aliados fortes, mas no final do mandato do democrata, evidenciou o quão perenes podem ser as relações bilaterais atualmente. O provável abandono da Ucrânia e a negociação da paz com os russos mediada pelo presidente Trump, será o primeiro dilema prático apresentado aos europeus.
Outro dilema de ordem prática envolve a ameaça de imposição de altas tarifas alfandegárias aos produtos europeus que chegarem aos Estados Unidos. Em uma nova guerra comercial com o mundo, Donald Trump, pretende não apenas sobretaxar as manufaturas de seu principal rival, a China, mas fazer o mesmo com os bens advindos de países amigos como o Canadá, México, Reino Unido e as nações da União Europeia. Perder consumidores em um dos maiores mercados consumidores do mundo, é perder uma quantia robusta, que outrora estava garantida às balanças comerciais dos países europeus. Essa enorme nova adversidade deverá ser enfrentada de maneira conjunta, com uma só voz por parte da União Europeia, visando minimizar os danos e ampliar os canais de diálogo.
Os dilemas de caráter eleitoral, por sua vez, acabarão dividindo o continente, assim como dividiram a América pelos últimos nove anos. O efeito Trump, com uma vitória acachapante e com pautas tão populares para a classe média e pobre, poderão inspirar vários partidos conservadores na Europa para surfar nessa onda e se tornarem igualmente vitoriosos em suas eleições nacionais. Os explícitos problemas causados pela imigração desordenada, a obsessão pelas pautas identitárias e o alarmismo ambiental afastaram os norte-americanos e também os europeus dos partidos progressistas e têm dado aos conservadores uma oportunidade única de retomar o poder nos maiores e mais ricos países do bloco.
Se a Itália vive um raro período de estabilidade política com uma líder conservadora, Giorgia Meloni, alemães e franceses, com eleições em 2025 e 2027 respectivamente, veem no efeito Trump a possibilidade de ascensão das novas direitas. O apoio direto do presidente dos Estados Unidos a partidos e candidatos conservadores, quebrará mais uma vez a posição histórica de neutralidade americana em não se manifestar em um processo eleitoral de aliados, mas será muito bem recebido pelas lideranças de direita por todo o continente, que observam no eleitorado europeu a mesma sede por mudanças concretas que trouxeram Trump novamente à Casa Branca. Tudo indica que o relógio iniciado hoje, verá em janeiro de 2029 um mundo bastante diferente em múltiplos aspectos, com muitos europeus esperando ter encontrado nesse período, alguma solução para os dois grandes dilemas que Donald Trump os apresentou.
Fonte: Jovem Pan News
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