Sexta-feira, Fevereiro 21, 2025
spot_img
InícioINTERNACIONALPutin e Trump querem redefinir a Ucrânia oito décadas após Yalta

Putin e Trump querem redefinir a Ucrânia oito décadas após Yalta

spot_img

Muito se falou nos últimos dias sobre um possível encontro entre Vladimir Putin e Donald Trump que teria como principal pauta um acordo para colocar fim à guerra na Ucrânia. No entanto, pouco foi lembrado que há exatos 80 anos a Criméia, a região que se tornou em 2014 o epicentro dos desacordos entre russos e ucranianos, foi o palco da Conferência de Yalta, a reunião entre Franklin Roosevelt, Josef Stálin e Winston Churchill, que redefiniu as áreas de influências de cada potência pelo mundo, em arranjo que resistiu por décadas.

Os três líderes chegaram à Crimeia, no Mar Negro, no início de fevereiro de 1945, com a certeza da vitória no maior e mais devastador conflito militar já encarado pela humanidade. Ao mesmo tempo, sobree a atmosfera do balneário de Yalta pairavam todas as desconfianças mútuas sobre ambições dos três por hegemonia política e econômica.

Anfitrião do encontro, Stálin disponibilizou os históricos palácios de Livadia, Vorontsov e Yusupov, um para cada delegação. Os americanos ficaram no primeiro. Livadia foi construído por Alexandre II, conhecido como o Libertador. No início do século XX, o local foi reformado pela Czar Nicolau II. Durante a guerra, chegou a ser ocupado pelos nazistas e mais tarde serviu como spa para as férias dos integrantes da temível NKVD, a polícia secreta chefiada pelo temido Lavrenti Beria.

Os britânicos se instalaram no Vorontsov, assim batizado em homenagem ao príncipe Mikhail Vorontsov, herói da campanha que derrotou as tropas de Napoleão Bonaparte. A exemplo dos americanos, os britânicos adotaram como primeira providência logo após a chegada uma ampla varredura, a fim de neutralizar a onipresente rede de escutas instalada pelos soviéticos.

Os três líderes sentaram-se à mesa de negociações em oito sessões. Temas como o papel da França no pós-guerra, a divisão da Alemanha, o ingresso da União Soviética no combate ao resistente Japão, o futuro governo da Polônia, entre outros, provocaram inúmeras discussões e discordâncias.

Não foram poucos os momentos de ciúme, principalmente de Churchill em relação à pragmática aproximação entre Roosevelt e Stálin. Em 11 de fevereiro, na última vez em que estiveram frente a frente, o americano procurou o britânico para lhe confidenciar que acertara com Stálin a participação da União Soviética no esforço de combate ao Japão. Churchill jamais escondeu o descontentamento por ter sido preterido. Mas a exclusão do veterano primeiro-ministro era um evidente sinal da perda de prestígio da Europa na nova ordem mundial.

O magnífico livro “Oito Dias em Yalta”, escrito pela historiadora Diana Preston, é obra formidável e ricamente detalhada sobre a conferência que redesenhou o mundo, sem protagonismo da Europa, algo inédito em tempos modernos. Os acordos fechados em Yalta foram divulgados em 12 de fevereiro, de forma simultânea em Moscou, Londres e Washington. Poucas semanas depois, um debilitado Roosevelt morreria. Churchill foi logo em seguida derrotado nas urnas.

Como há 80 anos, os líderes dos Estados Unidos e da Rússia planejam negociar como protagonistas de uma solução em construção, deixando a Europa novamente como coadjuvante. Como ocorreu há 80 anos. Mas se no passado a Ucrânia foi a anfitriã, agora está no centro do mapa. Mesmo que aos pedaços.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

Fonte: Jovem Pan News

Comentários

spot_img

RELACIONADOS

- Advertisment -spot_img

NOS ACOMPANHE NAS REDES SOCIAIS

14,434SeguidoresCurtir
4,452SeguidoresSeguir
- Advertisment -spot_img