Um ídolo que foi capaz de transcender gerações de um clube. Das raras testemunhas da transformação do Palestra Itália aos saudosos da Academia… quando o assunto é panteão de ídolos do Palmeiras, todos (nem que seja por menção honrosa) citam o nome Evair Aparecido Paulino, ou apenas Evair.
Um dos grandes protagonistas da década de ouro do Verdão, o “matador alviverde, como ficou conhecido por seu faro de gol inigualável, colocou seu nome na história ao ser o grande responsável pela conquista do Campeonato Paulista de 1993, título que encerrou um jejum palestrino de 17 anos sem troféus.
O início em Campinas
Nascido no distrito de Crisólia, no interior de Minas Gerais, Evair, incentivado por seu avô Mané Paulino, tentou seus primeiros passos em Escola de Futebol em São Paulo quando ainda tinha 14 anos. A primeira investida, entretanto, não deu certo e, sem abrir mão de seus sonhos, ele retornou para sua cidade.
No ano seguinte, um convite de um dos diretores do Guarani, a pedido de seu pai José Paulino, mudou sua história. Aprovado nas categorias de base do Bugre, o franzino Evair, que à época tinha o sonho de jogar como meio-campista, superou a saudade de casa e até a uma tentativa de corte no início da década de 80 para receber seu primeiro convite para jogar entre os profissionais.
A “promoção” foi feita pelo técnico Lori Sandri, que enxergou no jogador uma nova posição: atacante. Tendo a disciplina e a obediência tática como principais virtudes, Evair desandou a fazer gols entre os profissionais e ganhou a notoriedade no cenário nacional em 1986, quando disputou a artilharia do Campeonato Brasileiro com Careca, à época do São Paulo, e perdeu por apenas um gol.
Experiência em Bérgamo
O faro de gol seguiu apurado até 88, quando foi o artilheiro do Paulistão e recebeu uma proposta para atuar pela primeira vez fora do Brasil. O destino seria Atalanta, recém-promovida à elite do futebol italiano.
Com grandes investimentos, os Nerazzurri não pouparam esforços para contar com Evair, que respondeu à altura. Tendo a companhia de grandes jogadores como o sueco Glenn Stromberg, o brasileiro conduziu a equipe de Bérgamo para uma inédita sexta colocação no Calcio.
A empolgação foi tanta que Evair ganhou uma companhia de peso na temporada seguinte: o badalado argentino Claudio Caniggia, que retornou ao clube após anos de sucesso por Boca Juniors, Benfica e Roma.
Do lado do hermano Caniggia, o brasileiro formou uma parceira de sucesso e levou a Atalanta até uma surpreendente classificação para as quartas de final da Copa da Uefa. Apesar de não ter conquistado títulos, Evair é visto até hoje como um grande personagem da história dos Nerazzurri da Lombardia.
Início conturbado no Palmeiras
Após três anos bem vividos na Itália, Evair decidiu que era momento de retornar ao Brasil e o destino escolhido foi o Palmeiras. O início de sua trajetória no Palestra, entretanto, não foi das mais fáceis.
Envolvido como “moeda de troca” na ida de Careca Bianchesi para o futebol italiano, Evair foi criticado pela imprensa nacional, que, à época, considerou sua chegada ao Palestra como um mau negócio feito pela diretoria alviverde.
A pressão atrapalhou e logo em seu primeiro ano, Evair precisou encarar um “afastamento por deficiência técnica”. O responsável por encostar o atacante no Campeonato Paulista de 1992 foi o técnico Nelsinho Baptista.
“Era um ambiente difícil, complicado. Era quase impossível de se viver. O campeonato começou e não conseguimos vitórias nos primeiros jogos. Corríamos, mas as coisas não davam certo. Escolheram quatro jogadores e eu estava no meio”, declarou Evair.
Paciência e volta por cima em grande estilo
O cenário era o pior possível, mas Evair se manteve firme, encarou o afastamento, treinou em separado e saiu de cena por cinco intermináveis meses, até o fim daquela temporada. A resiliência do atacante valeu a pena.
No ano seguinte, com a chegada da patrocinadora Parmalat (início de uma era) e do técnico Otacílio Gonçalves, Evair foi reintegrado ao elenco principal e mostrou que sempre esteve preparado. Ao lado de craques da geração como Edmundo, Mazinho e César Sampaio, o atacante fez jus à sua presença na constelação, anotou um caminhão de gols e levou o Palestra para fatídica decisão do Paulista de 93.
Em jogo, um incômodo jejum de 17 anos sem título do Palmeiras. Sem titubear, Evair assumiu o papel de protagonista na decisão e, após marcar um gol no tempo regulamentar do jogo derradeiro contra o rival Corinthians (comandado pelo mesmo Nelsinho Baptista que o afastou no ano anterior), chamou a responsabilidade para cobrar um pênalti na prorrogação, deslocou Ronaldo Giovanelli e fez a festa da torcida alviverde. Era o fim da fim sobre o maior rival! E com a assinatura de Evair.
“Não, não poderia ser melhor. Se eu quisesse escrever o que foi aquele dia, não conseguiria. Por tudo que passei, todas as dificuldades, a minha recepção pela imprensa… não poderia ser melhor. Foi o dia que Deus escolheu para mim. Marcou minha vida. Ganhei Libertadores e vários outros títulos, mas esse foi o mais importante para mim”, declarou o “matador”.
“Tour pelo Japão” e retorno ao Brasil
Já apelidado de “matador alviverde”, Evair teve mais um ano brilhante em 1994 (com as conquistas do Paulista e Brasileiro), chegando a ter uma convocação para Copa do Mundo cogitada por Parreira, até que decidiu dar um novo rumo para sua carreira.
Ao lado de Zinho e César Sampaio, companheiros nos tempos de Palmeiras, o centroavante decidiu atravessar o globo e partiu para uma experiência no Yokohama Flügels, do Japão. A ideia inicial era seguir a “pavimentação” do futebol japonês ao profissionalismo, projeto iniciado por Zico anos atrás.
Dois anos e mais de 40 gols depois, Evair retornou ao futebol brasileiro, desta vez para defender as cores do Atlético Mineiro. Contratado para ser a cereja do bolo num galo que tinha Taffarel, Euller e Doriva, o centroavante tinha tudo para dar certo, mas não deu. Com problemas de ordem financeira, o Alvinegro se perdeu na parte administrativa e Evair “pagou o pato” sendo “dispensado” cinco meses depois.
A dispensa, entretanto, fez bem ao centroavante, que, no mesmo ano, se transferiu para o Vasco e protagonizou uma das mais memoráveis duplas de ataque que o Brasil á teve: Edmundo e Evair. Juntos, os craques dominaram o país em 1997 e conquistaram o Campeonato Brasileiro.
No ano seguinte, em uma grande esforço da Federação Paulista de Futebol, Evair se transferiu para a Portuguesa, mas sem esconder o grande desejo do seu coração: jogar mais uma vez pelo Palmeiras. E aconteceu.
No Verdão outra vez, Evair conquista a América
Em 1999, lá estava o “Matador Alviverde” no Parque Antárctica novamente. Já com 34 anos e sem a intensidade de outrora, Evair, como fez em toda sua carreira, soube se adaptar e fazer valer sua importância para o elenco alviverde.
Após uma temporada longa e exaustiva, Evair se fez presente no episódio mais marcante daquele ano e até hoje um dos mais marcantes da história do clube: a conquista inédita da Copa Libertadores da América.
Na grande decisão contra o Deportivo Cali-COL, Evair saiu do banco e, mais uma vez de pênalti, colocou o Palestra em vantagem. Na sequência, o duelo foi para as penalidades e o Verdão alcançou pela primeira vez o lugar mais alto do continente.
Apesar da idolatria estar “completa”, Evair não terminou bem a temporada em 1999 e saiu “pela porta dos fundos” após a derrota para o Manchester United no Mundial de Clubes, com direito a desavenças com a diretoria e desentendimentos públicos com Luiz Felipe Scolari, à época técnico do Verdão.
Rodagem pelo Brasil e o anúncio do fim
Dando sinais de uma possível escalada para o fim da carreira, Evair ainda aceitou uma proposta do seu antigo rival São Paulo, teve boas atuações com a camisa tricolor, mas não durou muito tempo. Um dos principais motivos foi um problema com o técnico Levir Culpi.
Depois do Morumbi, o Matador embarcou em experiências no Goiás e Coritiba, onde passou a conviver com problemas físicos, mas ainda se manteve firme, com atuações regulares e gols.
Até que em 2003, já vestindo a camisa do Figueirense e no auge de seus 38 anos, Evair entendeu que não tinha mais condições de contribuir como jogador e decidiu pelo término de sua gloriosa carreira.
Fonte: Ogol
Comentários