Na caminhada diária, Maria encontra conhecidos e recolhe recicláveis para auxiliar a renda
Entre as vias movimentadas de Dourados, no bairro Cohab II, uma senhora de passos lentos, mas determinados, segue sua rotina diária pela rua Eulália Pires. Maria Ferreira de Lima, 87 anos, caminha sozinha em busca de papelão para vender.
O trabalho, que antes incluía plásticos e outros materiais recicláveis, hoje se restringe ao que consegue encontrar.
O mercado mudou, os compradores sumiram, mas Maria persiste.
“Agora é só papelão”, diz, enquanto ajeita o carrinho onde carrega alguns pertences. O caminho é curto. Vai até a farmácia comprar remédios e, depois, retorna para casa. “Papelão é difícil de achar. No mercado já tem gente que pega antes”, explica.
Ainda assim, não desiste. Há cinco anos, ou mais, essa tem sido uma fonte de renda.
Maria estima que a compra por quilo gire em torno de 20 centavos e para conseguir uma quantidade que valha a pena vender, leva pelo menos dois meses juntando material. “Antes, com plástico, eu vendia todo mês. Agora, não dá”, lamenta.
Ainda assim, tem um comprador fixo. Quando acumula o suficiente, liga para ele buscar com um caminhão.
Maria mora sozinha em sua casa, mas tem a filha residindo próximo. “Se fico doente ou preciso de alguma coisa, ela me socorre”, conta. A saúde já não é a mesma de antes. Ela precisa de seis tipos de remédio – para pressão, tontura, estômago, colesterol, diabetes. Uma rotina que exige esforço, disciplina e, acima de tudo, coragem.
A história de Maria começa longe de Dourados. Ela é de Alagoas, e veio para Mato Grosso do Sul há 22 anos.
“Aqui é muito bom. O povo é educado, tem muita gente boa”, diz, com um brilho no olhar. Comparando com sua terra natal, ela nota diferenças. “Lá, se alguém tem uma casa melhor ou um carro, já se acha melhor que os outros. Aqui, tem gente rica que dá valor às pessoas”.
Apesar da idade avançada e das dificuldades do dia a dia, Maria faz questão de sair de casa e conversar.
“Se eu não andar, não vejo ninguém”, afirma. São pequenas caminhadas, duas quadras até a farmácia, onde não apenas busca os remédios, mas também aproveita para encontrar conhecidos, trocar sorrisos e sentir-se parte do mundo que ajudou a construir.
As dificuldades são muitas, mas ela segue firme. Nos melhores tempos, chegou a tirar 120 reais por mês com a venda de materiais recicláveis. Hoje, com a mudança no mercado, precisa esperar mais tempo para conseguir uma quantia parecida. Ainda assim, não reclama. Apenas segue em frente, como sempre fez.
Fonte: Dourados News
Comentários