Sexta-feira, Fevereiro 28, 2025
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Preparado para novo desafio, Turra lembra de conselhos de Felipão e repassa carreira

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Filho de agricultores, e agricultor, com orgulho. De família humilde, que nunca fugiu da labuta. O menino que não saiu de casa até os 15 anos hoje é um líder dentro do futebol. Escudeiro de Luiz Felipe Scolari, técnico pentacampeão, hoje seu conselheiro, Paulo Turra é intenso. Ex-jogador de Caxias, Botafogo e Palmeiras, recebeu de Felipão o primeiro desafio como técnico: no Athletico. Comandou, em seguida, o Santos, trabalhou em Portugal e agora, após ano sabático, quer voltar a trabalhar. E garante: “nunca estive tão preparado”. 

Em longa conversa com a reportagem de oGol, Turra falou de tudo. Com a intensidade que lhe é peculiar. A mesma que cobra dos times. Do orgulho de ser de Tuparendi, até o trabalho com um campeão mundial. Do título gaúcho com o Caxias, de Tite, até a passagem curta pelo Santos. Entre idas e vindas em Portugal… 

Depois de deixar a sua cidade, como conta, “na primeira vez que viajei para além de 80km da minha comunidade”, Turra demorou pouco tempo para convencer os técnicos da base do Caxias. No profissional, trabalhou primeiro com Celso Roth, de quem também aprendeu muito. Com Tite, aprendeu mais, e foi campeão gaúcho. 

Tite, lembra, chamava os jogadores para discutir ideias, posicionamentos e estratégias. Turra, que “adorava falar”, aproveitava as conversas. Aprendeu que no futebol, é mais fácil discutir ideias do que impor ideias. 

“Ele sentava com um quadro tático, naquela época já, em 2000, e perguntava aos jogadores: ‘o que vocês acham, o que vocês podem acrescentar?’. Ele era muito tático, exigia muito. Nos jogos de noite, a gente treinava tático de manhã”, recordou. 

De Tite, admirou a oratória e pegou para si as conversas táticas. Anos depois, estaria conversando com seus próprios jogadores. “Eu não sou de impor, eu sou de convencimento. Preciso convencer eles das ideias, e estou aberto a eles opinarem. No Athletico, quantas vezes que coloquei com o Terans pelo lado direito, de fora para dentro, e perguntei a ele”. 

O primeiro contato com a comissão técnica de Luiz Felipe Scolari foi em 2000, quando foi comandado por Murtosa. No mesmo ano, reencontrou Roth no Alviverde. Como jogador, ainda atuou em Boavista e Vitória, em Portugal, antes de encerrar a carreira no Avaí, em 2007. 

A semente de se tornar treinador, entretanto, já estava plantada. Começou a carreira em Novo Hamburgo e comandou Caxias e Avaí, suas antigas equipes enquanto atleta. Esportivo, Brusque, Brasil de Farroupilha, Cianorte, Operário de Ferroviário foram outros clubes que dirigiu até voltar a encontrar a comissão técnica de Felipão. Dessa vez para ser auxiliar técnico… 

O dia a dia com Luiz Felipe Scolari pode ser considerado uma universidade para Turra. Foram sete anos como auxiliar do técnico, a começar pelo Guangzhou, da China, em 2017. Turra lembra que era “chato”, de tanto que fazia perguntas ao técnico. O que mais aprendeu? A olhar o jogo de uma maneira diferente e ver além. 

“Existe um paradigma: o Felipão é só gestão. O Felipão não é só gestão, nada. O Felipão é muito inteligente, vê muito o jogo. O Murtosa também. Levaram Portugal a melhor campanha em Copas, descobriram o Cristiano Ronaldo. A gestão deles era muito presente, mas o conhecimento era muito grande. 
Aprendi muito com eles a olhar. Eles têm muito mais que dois olhos. Falando do professor do Felipe, ele tem dois olhos, mas parece que ele tem oito. Por tanta coisa que ele enxerga. Eu adquiri muito isso dele”, garantiu. 

Ainda em 2017, Felipão começou a desenhar o retorno de Turra para o cargo de técnico principal. “Ele falou assim: ‘Eu tenho um projeto para nós. Meu projeto é trabalhar até 2022. Após isso, quero me tornar manager. Se estiver do meu lado, vou te indicar como treinador”.

Dito e feito: em 2022, após a classificação para a final da Libertadores daquele ano, Felipão chamou Turra para nova conversa. O grande desafio da carreira do técnico estava chegando. 

“Quando nos classificamos na semifinal da Libertadores contra o Palmeiras, eu fui o treinador, ele não tava, ele chega para mim e pergunta: ‘Como você está’. ‘Estou bem, professor, feliz’. Ele fala assim: ‘Você lembra o que falamos em 2017? Vamos decidir a Libertadores, vamos classificar o Athletico para a Libertadores ano que vem, pode ter certeza disso, e, a partir do final do Brasileiro, vou indicar teu nome para o presidente para você ser o treinador e eu vou ser manager como falei. Pode ser?’ E foi isso que aconteceu”, relembrou. 

Foram 36 jogos de Paulo Turra no comando do time do Athletico, com 25 vitórias e o título do Campeonato Paranaense. Turra guarda o retrospecto na memória, embora lamente o encerramento do ciclo de forma abrupta. 

“Imagina tu pegar um legado vice-campeão da Libertadores e classificado para a Libertadores direto. E depois de alguns anos, o Athletico voltou a ter a equipe principal desde o início no Paranaense. “Vai lá, Turra, pega essa bomba”. Peguei, fomos campeões invictos, com 15 vitórias e dois empates. Libertadores, no grupo da morte, com Alianza Lima e Libertad, e classificamos com uma rodada de antecedência. Na Copa do Brasil, eliminanos o CRB e o então líder do campeonato Brasileiro, Botafogo, com 13 pontos na frente do segundo colocado. E eliminamos na casa deles. Foi assim que sai do Athletico”, contextualizou. 

Na época, Felipão aceitou o convite para voltar a ser técnico, no Atlético Mineiro. A diretoria do Athletico, então, pouco depois da saída de Felipão do cargo de diretor técnico, demitiu Turra. 

“Não esperava, mas não deu muito tempo para não esperar. O professor me comunicou que estava saindo, meia hora depois eu fui comunicado pelo CEO do Athletico na época, o Alexandre Matos, que eu estava sendo desligado. Tive nem tempo de pensar como treinador. Fui. O tempo é o senhor da verdade. O que sempre ressalto é que sou grato tanto ao professor Felipe, quanto ao Athletico, porque eles me deram a chance de voltar a ser treinador principal”, comentou. 

No mesmo ano, Turra voltou a ter um novo desafio: o de tentar evitar o rebaixamento do Santos. Ficou apenas sete jogos no comando, com uma vitória, e mais uma vez lamentou a quebra no trabalho. 

“Eu tive meu trabalho medido em sete jogos. Onde enfrentei o campeão da Libertadores, Fluminense, o campeão da Copa do Brasil, o São Paulo, o meu ex-clube, o Athletico, um Cuiabá que fez a melhor campanha da história dele, e o outro o Botafogo, que era o líder. E meu trabalho foi medido por isso aí. Eu falo com toda a convicção: se tivessem me dado o tempo normal, teria feito o Santos dar a volta. Não me deram. Nessa gestão, foram 12 treinadores. Eu fui o 13º, Aguirre 14º, Marcelo 15º. 15 treinadores que “não deram certo”. E eu não me dediquei só dentro de campo. Quando saí, deixei muito mais uniforme do que quando cheguei. Tive apoio dentro de todos no Santos”, contou.

 O trabalho seguinte, no Vitória, de novo em Guimarães, Portugal, também terminou após seis jogos. Sem licença da Uefa, Turra não conseguiu comandar a equipe como queria. “Eu não tinha comportamento de treinador, tinha que ir para a beira do campo, dar o recado, e voltar. E eu, como treinador sanguíneo que sou… Dá vontade de quebrar as cadeiras (risos)”.

Desde o retorno ao Brasil, Paulo Turra viveu um ano sabático. De muito estudo, alinhamento com a comissão técnica, composta por Cyro Bueno (responsável pela organização defensiva), Felipe Enders (organização ofensiva), Adir Kist (bolas paradas e análise de adversários). São duas reuniões semanais, que ajudaram a criar uma metodologia de trabalho com protocolos bem definidos para os dois esquemas mais usados por Turra: 4-3-3 (1-4-1-2-3) e 3-4-3. 

Turra defende que, hoje, em um futebol “que nunca foi tão dependente do técnico”, todo treinador tem de ter pelo menos dois modelos de jogo. Ele e sua comissão se dizem preparados para diferentes situações de jogo, com protocolos bem definidos para situações diversas. 

“Eu gosto de intensidade. Minha vida foi intensa. Com e sem a bola. Mas eu tenho que ter uma equipe que em alguns momentos vai ter que ser vertical, e vai ter momentos que vai ter que ter posse. O futebol moderno exige isso. E eu, como treinador, estou preparado para isso. O futebol não permite um modelo de jogo só. Eu tenho que ser vertical no momento certo, e ter a posse no momento certo”, explicou. 

O técnico trabalhou durante esse período, também, o lado mental do jogo, faz aulas semanais de inglês e se diz preparado para qualquer que seja o próximo desafio. Só mira uma coisa: ser campeão. 

“Eu tenho muito orgulho de ter trabalhado ao lado de um dos melhores de sempre, Luiz Felipe Scolari. Fui lapidado para ser campeão. Quero chegar no lugar mais alto do pódio. Sei que tenho condições, tenho confiança no meu trabalho, na minha comissão, e vou dar continuidade a isso. Nunca estudei tanto futebol como nesse tempo que estou parado. Me sinto muitíssimo preparado. Trabalhei ao lado de um dos maiores e fui campeão ao lado dele. Esse legado, eu vou levar, e vou fazer das minhas equipes campeãs”. 

Fonte: Ogol

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