Quarta-feira, Março 12, 2025
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Fora dos holofotes há uma década, futebol chinês tenta se reinventar sem estrelas

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Em 2015, com gol de Elkeson, o Guangzhou Evergrande, de Ricardo Goulart e Paulinho comandado por Luiz Felipe Scolari, conquistava a Liga dos Campeões da Ásia. O futebol chinês, naquela janela de transferências, beirou os 150 milhões de euros em investimentos. O valor passaria de 500 milhões de euros em uma única janela de transferências em 2017, colocando a China ao lado das grandes ligas da Europa em termos de investimento. Hoje, o cenário é outro. 

Nesta semana, Shanghai Shenhua e Shanghai Port, os últimos remanescentes chineses na Liga dos Campeões da Ásia, caíram nas oitavas de final. O país completa uma década desde que conseguiu o último representante em uma final continental. Motivos? Vamos nos debruçar sobre alguns, com a ajuda do técnico português Leonel Pontes, hoje diretor esportivo do Shanghai Shenhua. 

Na Copa do Mundo de 2018, sete seleções contaram com jogadores da Superliga Chinesa: Argentina (Mascherano), Bélgica (Witsel e Carrasco), Brasil (Renato Augusto), Portugal (José Fonte), Nigéria (Ighalo e Obi Mikel), Sérvia (Tosic) e Coreia do Sul (Kim Young-gwon). A liga atraía grandes estrelas do futebol mundial. 

Na TV fechada no Brasil e em diversos outros países, era comum vermos jogos do Campeonato Chinês. O futebol era um interesse nacional na China, e virou uma política de governo para Xi Jinping, o que atraiu o interesse de magnatas locais. 

O investimento feito até aquele momento, entretanto, não contribuiu para impulsionar o futebol local. “O nível de investimento que foi feito, foi feito no futebol profissional, e não na base”, ressaltou Leonel Pontes, em conversa com a reportagem. 

As estrelas deram visibilidade para a liga e, consequentemente, para o governo de Xi Jinping. O capital estrangeiro e o investimento das empresas privadas, entretanto, foi logo ceifado pelo “olho gordo” do “leão”. O governo chinês estendeu seus tentáculos para os controles de capital, como em todas as outras áreas da economia, e começou implementar a taxação de 100% nas transferências de mais de 45 milhões de Rmb (US$ 7 milhões). Logo, os investimentos foram se dissipando, o que ficou ainda mais claro com a pandemia da Covid-19. 

Com o governo no controle total do futebol, o objetivo de Xi Jinping passou a ser o ataque a corrupção. “O Governo assumiu o futebol, tentou limpar e continua a limpar a corrupção dentro do futebol chinês. Muita gente foi presa e não pode entrar no país porque cometeu delitos graves em termos de corrupção”, reforçou Pontes. 

Chen Xuyuan, ex-presidente da federação chinesa de futebol, foi preso no início de 2024 e condenado a prisão perpétua por receber 81 milhões de yuans (11,2 milhões em dólares) em propina. Vários outros diretores da federação também foram condenados. 

Li Tie, ex- jogador e técnico da seleção chinesa, confessou ter pagado propina para comandar a seleção nacional, assim como fez parte de um esquema de propinas que favoreceu alguns jogadores na seleção. Tie, que é ex-jogador do Everton, foi condenado no fim de 2024 a 20 anos de prisão. Li foi acusado, também, de manipulações de partidas do futebol chinês entre 2015 e 2019. 

“Neste momento, a liga está tentando recuperar alguma credibilidade”, garante Leonel. Os investimentos no futebol estão voltando, mas não como antes.. 

Se antes o projeto de Governo era dar visibilidade ao futebol chinês (e ao Partido, claro), agora, as equipes chinesas investem menos em estrelas e mais na formação dos atletas locais. Na última janela, foram gastos menos de 15 milhões de euros. 

“Tem havido uma alteração dessa ideia, porque também os clubes e empresas não têm capacidade para investir tanto como no passado. E perceberam que muita gente veio para China para ganhar dinheiro, e não para desenvolver o futebol chinês”, comentou Leonel. 

No Shanghai Shenhua, Leonel é responsável pela criação de “um processo formativo para potenciar jogadores de futebol com o objetivo de colocar jogadores na primeira equipe, na Superliga e nas seleções nacionais”. Leonel trabalha de parte, também, na formação de novos treinadores, analistas e preparadores físicos. 

A China, hoje, começa de baixo, da base. Na capacitação de profissionais para a formação de talentos, embora ainda seja uma missão desafiadora. 

“Comparar o futebol chinês deste momento com o anterior, é tipo comparar os anos 1990 portugueses, com uma diferença: tínhamos bons jogadores e más condições de trabalho. Aqui tem condições muito boas, mas falta qualidade em muitas cidades”, começou por contar Leonel. 

“Há uma grande preocupação na formação de jogadores, de equipes jovens para competir. Mas ainda é um sistema que limita o desenvolvimento dos jogadores. É um sistema em pirâmide, onde se protege os talentos, não se coloca os talentos a competir com os talentos, onde muitas vezes o densnível competitivo é muito grande, grandes jogadores estão a competir com jogadores de baixo nível. Atrasa o desenvolvimento dos atletas, e a afirmação deles no profissional acaba sendo tardia”, completou. 

Apesar de o perfil de jogador buscado ter mudado, uma coisa continua igual: o jogador brasileiro continua valorizado no mercado chinês. A Superliga 2025, que começou no fim de fevereiro, continua a ter um alto número de estrangeiros: são 24% dos jogadores que entraram em campo até aqui. 8% destes (31) são brasileiros. 

Leonel Pontes vê que o investimento agora é feito menos com base em status e mais de olho em um crescimento sustentável, tanto na contratações de profissionais de comissões técnicas como também no investimento em atletas. A projeção para o futuro é otimista. 

“O futebol está cada vez mais forte e competitivo. A China tem recursos. Se forem canalizados, acredito que possa ser feito um super campeonato nos próximos quatro, cinco anos”, projetou. 

Fonte: Ogol

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