Terça-feira, Março 18, 2025
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Afinal, a Europa nos mostra o que já sabíamos

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Diego Simeone, Luis Enrique, Arne Slot e Hansi Flick. Se você seguir o objetivismo e quiser decretar o melhor treinador da temporada, certamente encontrará a resposta em um desses nomes. Quatro dos trabalhos mais interessantes da Europa mostram ao Brasil o que já sabíamos, embora não conseguíssemos enxergar: a identidade do futebol brasileiro está na nossa própria escola de futebol. 

Quando o Brasil perdeu a Copa do Mundo de 1950 para o Uruguai, muita gente, inclusive Zizinho, o craque daquele time, colocou a culpa no esquema do técnico Flávio Costa. O WM, desenvolvido na Inglaterra e disseminado pelo Arsenal de Herbert Chapman, foi o esquema dominante no futebol entre as décadas de 1920, 1930 e 1940. Com a chegada de técnicos europeus no Brasil e com o intercâmbio de clubes brasileiros na Europa, a escolha foi por trazer o esquema para nossas equipes. 

Esqueceu-se, porém, de uma coisa: estávamos a lidar com jogadores brasileiros, e não europeus. Faltou um certo contexto histórico e cultural, o que sobrou para o Aranycsapat de Gusztáv Sebes, na releitura húngara que criou o falso 9 e transformou o WM em MM. Ou no Wunderteam de Hugo Meisl na Áustria, outra releitura da “Escola do Danúbio”.

Depois do Maracanazo, nos reinventamos e usamos a escola brasileira de futebol para fazer a releitura do WM que montou o 4-2-4, plataforma do tricampeonato mundial da seleção brasileira. Foi quando deixamos Garrincha ser Mané, que chegamos ao topo do mundo. Quando Zagallo colocou cinco camisas 10 em campo que formamos a maior seleção que já se viu. 

Só que a “licença poética” do jogador brasileiro foi podada com o tempo. O futebol evoluiu. Ou regrediu em alguns pontos? De qualquer forma, como o jogo é a sequência de decisões dos jogadores para resolver problemas espaço-temporais, e essa sequência de decisões se tornou cada vez mais condicionada pelo componente tático, saídas cada vez mais “mecânicas” e trabalhadas em “laboratório” passaram a dominar o jogo. 

Durante muito tempo, o espaço no campo de futebol estava nos corredores laterais. Por isso, durante muitos anos, nossos laterais predominaram, de Nilton Santos e Carlos Alberto Torres até Roberto Carlos e Cafu. Mesmo depois, com Marcelo e Daniel Alves, referências nas principais competições do mundo. 

Só que as adaptações táticas e as respostas aos problemas do jogo começaram a alterar o fluxo. O jogo de posição, que de uma certa forma foi uma releitura (ou herança) de Pep Guardiola do Futebol Total (Pep foi treinado por Cruyf, que por sua vez foi comandado por Rinus Michels), virou sinônimo de futebol moderno.

Menos flexível que o jogo que caracterizou a Laranja Mecânica, o jogo de posição ainda sustenta a evolução no campo através da posse de bola, mas com posições menos flexíveis. A criatividade, no final das contas, ainda fará a diferença no último terço, mas os jogadores têm posições e interações bem definidas, criando linhas de passe em setores predefinidos. 

Não demorou para o jogo de posição virar “regra” no futebol brasileiro. Afinal, importar da Europa parece o caminho mais fácil rumo ao sucesso. A “europeização do futebol brasileiro” nos afastou de nossa identidade mais uma vez. 

Fernando Diniz foi uma voz destoante nos últimos anos no Brasil, embora sempre descredibilizado. Até na Europa o relacionismo, ou jogo funcional, se tornar tendência com as equipes mais interessantes da temporada. 

Dentro da CBF, a escolha por Diniz como interino, a intenção com Carlo Ancelotti e agora o trabalho de Dorival Júnior indicam uma certa tentativa de reconexão com a escola brasileira de futebol. Na última coletiva, Dorival falou de uma seleção sem posições fixas, usando como exemplo a posição de camisa 9. 

“Quero uma equipe com movimentação, sem ficarmos posicionais. Isso será fundamental. Independente dos nomes, podem ter certeza que teremos homens de definição. Precisamos só da mudança de um comportamento: atacarmos espaço. As grandes equipes, se percebermos, são raras as que estão com um centroavante de ofício, e mesmo assim o número de gols é considerável. Isso é trabalhado dia a dia”, comentou. 

O desafio de Dorival, no momento, é tornar prática a teoria. É provar que a Europa nos mostra o que já sabíamos: para a seleção brasileira nos representar, e mostrar a própria identidade, ela tem de valorizar a escola brasileira de futebol e jogar como Brasil. Não ser colônia futebolística… 

Fonte: Ogol

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