Matemática da Piscicultura
O tema que mais me encanta hoje na piscicultura de Dourados é o que vou descrever agora. São 130 piscicultores conhecidos, que são caracterizados como aqueles que construíram lâmina d’água (tanques) específicas para piscicultura. Não inclui lagos e represas, que embora tenham sido povoados com alevinos, foram construídos para outras atividades rurais como dessedentação do gado ou irrigação.
As 130 pisciculturas somam aproximadamente 800 hectares de lâmina d’água. Então vamos lá, se 50% dessas áreas estiverem disponíveis para piscicultura novamente, teremos 400 hectares que constituem nosso potencial de crescimento.
Em um levantamento realizado há 15 anos, já se sabia que a produtividade desses piscicultores era baixa 4.000 kg por hectare por ano, na média. Isto denota baixa tecnologia e baixo profissionalismo.
Então temos 400 hectares X 4 toneladas = 1600 ton/ha/ano de peixes. Dividido em 50 semanas por ano, teremos 32 ton/semana e finalmente dividido por 5 dias, teremos 6 ton/dia de matéria-prima. Tudo isso numa tecnologia de 20 anos atrás, mas demonstra um potencial inexplorado.
A beleza disso é que isso é uma oportunidade de negócio. Lembremos que é um dos segmentos que mais cresce no Agro.
É curioso que os frigoríficos de peixe do Mato Grosso do Sul padecem de falta de matéria-prima e vão buscar esta matéria prima fora do Estado.
A falta de comunicação entre estes atores é, entre outras, responsável, é aí que reside a beleza do processo.
Podemos afirmar que a interação entre os atores dessa cadeia produtiva é extremamente precária. Dentro de uma tecnologia atual, surgida na década de 80, podemos pensar em produtividade de 8 a 12 ton/hectare/ano de peixes, novas tecnologias permitiriam 40 ton/hectare/ano. É um frigorífico de grande porte.
Em recente levantamento soubemos que pacus vindos de Rondônia chegam aqui a R$9,80/kg. O piscicultor familiar de Dourados, a este preço, teria um treco!!! Produtividades de 10 ton/ha, não oferecem atratividade a este preço.
A escala de produção mudou, portanto. Temos que partir para produtividades maiores.
É surpreendente que a piscicultura de Dourados, pioneira no Brasil, tenha retroagido esse tanto, já que tem este potencial. Como isto aconteceu? Temos que rever todo um conjunto de ações executadas há décadas, que foram infrutíferas , quiçá perniciosas.
Em suma, todos somos culpados, a somatória de pequenos erros resultam em um desastre, a culpa é de todos. Na derrota não há heróis. A piscicultura persiste crescendo no Brasil e não sabemos qual vai ser o ponto de inflexão desse processo. Mas antevendo o futuro, temos que ressurgir com uma piscicultura muito mais competitiva do que aquela que já existe hoje, para garantirmos um progresso duradouro, com novas tecnologias, onde o piscicultor sai de 4 ton/ha/ano, e migra para 40; ele vai ganhar no volume e não na margem individual: uma economia de escala. Tudo isso não só é possível como necessário.
Lembro a todos que o epicentro da piscicultura brasileira é a cidade de Toledo Paraná cuja região é responsável pela maior parcela de produção. Estamos a 280 km desta cidade, e lá tudo foi feito no âmbito da Agricultura Familiar tradicional.
Infelizmente essa geografia evidencia nossa falta de habilidade. Pior, em Toledo os antigos pesquisadores dizem que a piscicultura do Mato Grosso do Sul foi pioneira e inspirou eles a prosseguirem. Eu ouvi isso dentro da Unioeste, da boca do Dr Audi Feiben, em uma das várias visitas.
Tudo isto estamos deixando passar. Em levantamento recente estimo que o início da piscicultura em Dourados, remonta ao ano de 1980. Estou dando prosseguimento a esse levantamento, como forma de empoderarmos novamente este segmento.
*Piscicultor
Fonte: Dourados News




Comentários