Com apoio da Fundect, pesquisa busca alternativas sustentáveis de produção na Rota Bioceânica
A Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) está coordenando uma pesquisa inovadora voltada à recuperação de pastagens degradadas em Porto Murtinho, município estratégico no trajeto da Rota Bioceânica. O projeto avalia a sustentabilidade de diferentes culturas adaptadas à região e já conta com o respaldo da primeira Unidade Experimental de Pesquisa da rota.
Com investimento de R$ 1,5 milhão da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul (Fundect), ligada à Semadesc, a iniciativa reforça o compromisso estadual com a produção sustentável. Em vez de avançar sobre a vegetação nativa, o foco está em restaurar áreas já degradadas, promovendo o crescimento econômico com responsabilidade ambiental.
Dados da Semadesc revelam que o Estado possui cerca de 12 milhões de hectares de pastagens degradadas. Desse total, aproximadamente 4,7 milhões podem ser recuperados e utilizados em atividades produtivas, como agricultura, pecuária, sistemas agroflorestais ou silvicultura.
Porto Murtinho, o segundo maior município de Mato Grosso do Sul, tem uma área total de 1,7 milhão de hectares. Enquanto 60% do território está dentro do bioma Pantanal — protegido por legislação ambiental — os mais de 700 mil hectares restantes são passíveis de uso econômico com sistemas sustentáveis.
O engenheiro agrícola e coordenador da pesquisa, Ricardo Gava, destaca que a área aproveitável fora do bioma é significativamente maior que a do município de Maracaju e chega a ser o dobro da de Chapadão do Sul. Ele ressalta a importância de um uso eficiente dessas terras, que pode aliviar a pressão sobre áreas sensíveis do Pantanal.
“Através da Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), conseguimos aumentar a renda das famílias locais e, ao mesmo tempo, proteger o meio ambiente. Isso mostra que desenvolvimento e sustentabilidade podem andar juntos”, afirma o pesquisador.
A unidade experimental está localizada a cerca de 40 quilômetros do centro urbano de Porto Murtinho, ocupando uma área de dois hectares na bacia hidrográfica do rio Apa. Apesar da fertilidade natural dos solos, desafios como o adensamento superficial e a salinização exigem práticas de manejo adaptadas às condições da região.
Segundo Gava, essas limitações causam o surgimento de lençóis d’água suspensos, que elevam o risco de inundações e comprometem o equilíbrio químico do solo. Justamente por isso, o projeto inclui testes com e sem uso de fertilizantes químicos para medir o desempenho de culturas em condições de menor impacto ambiental.
Entre as culturas analisadas, estão quatro tipos de braquiária (Ruziziensis, Decumbens, Xaraés-MG5 e Marandú), além de milheto, algodão e soja. A diversidade de espécies permite avaliar quais se adaptam melhor ao clima extremo de Porto Murtinho, onde as temperaturas frequentemente ultrapassam os 50 °C.
Além disso, Ricardo Gava realiza cruzamentos de dados com estudos conduzidos em Chapadão do Sul, onde ele também atua como professor e pesquisador da UFMS. Essa comparação é essencial para entender como as culturas se comportam em diferentes altitudes e condições climáticas. Em Chapadão, por exemplo, as altitudes chegam a 900 metros, com clima mais ameno e previsível.
“Com o estudo comparativo, conseguimos identificar cultivares mais resistentes às mudanças climáticas. Isso é fundamental para o futuro da produção agrícola em regiões de extremos”, explica Gava.
Mais do que uma área de teste, a unidade experimental também funciona como centro de capacitação e intercâmbio científico. Participam da iniciativa estudantes da graduação e da pós, além de pesquisadores e produtores do Brasil e do Paraguai.
“A troca de experiências está fortalecendo o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis ao longo da Rota Bioceânica. As pesquisas mostram que essa região tem potencial para se tornar uma nova fronteira agrícola no país”, conclui o pesquisador.




Comentários