Cenário que favorece aprovação do acordo UE-Mercosul deixa França sob pressão

Colheita de soja na Fazenda Itamarati, do grupo Amaggi, em Tangará da Serra(MT)

Tensões comerciais com os EUA impulsionam blocos europeus a buscar novos parceiros, e pacto com Mercosul ganha força

O aumento das tensões comerciais entre Estados Unidos e União Europeia tem provocado mudanças importantes no cenário internacional. Com isso, o bloco europeu vem acelerando a busca por novos parceiros comerciais e, nesse movimento, o acordo com o Mercosul voltou ao centro dos debates. Essa nova dinâmica deixou a França isolada, sob intensa pressão para mudar sua posição contrária ao pacto.

Com o risco crescente de barreiras comerciais nos EUA, o comércio entre americanos e europeus — que movimenta quase US$ 1,8 trilhão (cerca de R$ 10,5 trilhões) — passou a enfrentar incertezas. Como resposta, a UE iniciou conversas com diversos países, incluindo a China e os membros do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai).

No último fim de semana, Friedrich Merz, que deve assumir o governo da Alemanha, foi direto ao ponto. “O equilíbrio mundial está mudando. Nós, europeus, precisamos de novos parceiros comerciais muito rapidamente”, declarou.

As negociações entre Mercosul e União Europeia já duram mais de 25 anos. Apesar de os dois blocos terem alcançado um entendimento político em dezembro, o acordo ainda depende da ratificação formal. A Comissão Europeia segue discutindo os mecanismos para essa aprovação.

A França, porém, continua resistente. O motivo central da objeção é o impacto que o acordo pode causar ao setor agrícola francês. Mesmo com os apelos de países como Alemanha, Espanha e Portugal, o governo francês não se mostra disposto a ceder. Uma fonte diplomática de Paris resumiu a posição: “O texto não mudou e, portanto, é inaceitável como está”.

A Comissão Europeia, por outro lado, defende o avanço da parceria. “Em um mundo instável, as parcerias com aliados de confiança, com regras bem definidas e benefícios mútuos, são mais valiosas do que nunca”, afirmou um porta-voz do órgão.

Internamente, a França também vem enfrentando questionamentos. O presidente do Banco Central francês, François Villeroy de Galhau, alertou que o pacto poderia reduzir os efeitos negativos da nova política comercial dos Estados Unidos.

Além de Alemanha, Espanha e Portugal, a Áustria também sinalizou uma possível mudança de posição. O ministro da Economia austríaco, Wolfgang Hattmannsdorfer, afirmou: “Precisamos desse acordo agora”.

Enquanto isso, a Polônia mantém firme sua oposição, alinhada com os franceses, principalmente pela força de seu setor agrícola. Como ocupa atualmente a presidência rotativa da UE, o país evitou fomentar discussões sobre o tema. Porém, no segundo semestre, será a vez da Dinamarca liderar o bloco, e há expectativa de que a análise jurídica final do texto ocorra nesse período.

A Comissão Europeia já avisou que pretende apresentar um novo texto antes do fim do verão europeu. Assim, o acordo entre Mercosul e União Europeia pode voltar ao topo da agenda do bloco nos próximos meses.

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