Professores fazem ato em Dourados pela valorização da educação pública
No segundo dia da 26ª Semana Nacional em Defesa da Educação Pública, professores e trabalhadores da rede municipal e estadual de ensino de Dourados participaram de um ato público, nesta quarta-feira (23), na Praça Antônio João.
A mobilização fez parte da paralisação nacional convocada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), com manifestações realizadas nas capitais dos Estados. Mesmo assim, o município de Dourados organizou localmente uma mobilização própria, com falas e atividades.
De acordo com o presidente do Simted (Sindicato Municipal dos Trabalhadores em Educação), professor Thiago Coelho, a proposta do movimento é dar visibilidade às pautas que atingem a educação pública e reforçar o posicionamento contrário à privatização das escolas e à destinação de recursos públicos para instituições privadas.
A programação da semana também inclui podcasts, debates e uma audiência pública sobre o Plano Nacional de Educação, marcada para o dia 29 de abril na Câmara de Vereadores em Dourados.
“Das unidades da rede municipal e da rede estadual paralisadas, nós tivemos alguns ônibus saindo pela manhã para Campo Grande porque a proposta dessa paralisação nacional é massificar os atos nas capitais. Além de encaminharmos os nossos representantes, nós também estamos organizados em ato, em movimento, fazendo as nossas defesas e fazendo as nossas atividades acontecerem”, afirmou Thiago Coelho em entrevista ao Dourados News.
O professor explicou que o ato em Dourados está inserido em um contexto maior de resistência à militarização e à privatização da educação pública, fenômenos que já avançam em estados como Paraná, Goiás e São Paulo.
“Hoje, o dia de paralisação quer ser um dia de reflexão para pensar a privatização das escolas públicas, a militarização e a apropriação do recurso público que deveria ir para a escola pública por iniciativas privadas. Hoje cresce no Brasil uma cultura de privatização da escola pública. E essa cultura de terceirização tem entranhado na educação pública e rebaixado a qualidade da educação”, diz o presidente do Simted.
Thiago também comentou sobre a adesão ao movimento na cidade, revelando que aproximadamente 70% das escolas, entre municipais e estaduais, aderiram à paralisação total ou parcial.
“Hoje nós temos unidades que estão 100% paralisadas e algumas que algumas turmas foram dispensadas para os trabalhadores poderem estarem aqui. O Centro de Educação Infantil e Escolas da Rede Municipal e as escolas da Rede Estadual estão aderindo ao movimento e participando fortemente dele”, falou.
Outro ponto destacado pelo presidente do Simted foi a luta pela valorização dos profissionais da educação, com destaque para a aplicação do piso salarial proporcional à carga horária de 20 horas semanais, tanto para o magistério quanto para o setor administrativo.
“A nossa principal pauta é a valorização do piso nacional, que está definido pela Lei 11.738 de 2008, para uma carga de 40 horas. No entanto, os nossos cargos e concursos, tanto no estado quanto no município, atualmente exigem 20 horas semanais. O Estado está quase atingindo o piso de 40 horas, mas no município de Dourados, o piso de 20 horas foi derrubado pela Câmara em 2017. Agora, buscamos retomar essa conquista junto ao governo”.
Por fim, o professor chamou atenção para as condições de trabalho enfrentadas pelos profissionais da educação em Dourados, destacando a superlotação das salas de aula e a ausência de políticas públicas efetivas para ampliar a rede escolar.
“Nós temos uma rede sobrecarregada, salas lotadas. Enquanto o município explodiu populacionalmente, a nossa rede pública em Dourados não se ampliou. Ao contrário, o atendimento foi reduzido do primeiro ao quinto ano pela rede estadual, provocando a superlotação das escolas municipais, o que leva à redução da qualidade do atendimento aos nossos estudantes e, principalmente, à sobrecarga das condições de trabalho do magistério e do administrativo, levando ao adoecimento dos nossos servidores, dos nossos trabalhadores”, diz Thiago.
Ivonete Laurinda Ferreira, professora há 18 anos e a primeira a utilizar o microfone aberto no ato, destacou a importância da união entre educadores, governo e sociedade para avançar nas discussões sobre a educação. Segundo a professora, além das questões salariais, é fundamental que as condições de trabalho e a estrutura das escolas sejam igualmente priorizadas nas pautas.
“Há anos, estamos perdendo direitos e lutando pela implantação do piso salarial para 20 horas. Já avançamos nessa discussão, mas infelizmente retrocedemos nas administrações passadas. Além disso, o concurso realizado para os professores apoio não garantiu a jornada de trabalho adequada, e seguimos nessa luta. Ao longo dos últimos anos, a categoria dos trabalhadores da educação tem sido tão desvalorizada que muitos professores e profissionais estão adoecendo devido à sobrecarga de trabalho”, afirmou Ivonete.
Ela enfatizou que a qualidade da educação está diretamente ligada ao suporte oferecido aos trabalhadores da educação, que enfrentam desafios diários para garantir o melhor para os estudantes, muitas vezes com recursos escassos.
“O que a gente pede é um olhar da administração para a nossa categoria. A educação foi a única área que não recebeu atenção nem valorização das últimas gestões em Dourados. Tivemos direitos retirados, e a nossa luta, enquanto sindicato, é para que o gestor público enxergue a educação com mais cuidado e respeito. Quando temos um professor desvalorizado dentro da escola, quando temos salas superlotadas, não somos só nós que sofremos, são também as crianças que perdem. Elas deixam de ter acesso a um ensino de qualidade”, disse a professora.
Ela faz um apelo direto à administração pública, destacando os impactos que a desvalorização da categoria tem causado também na aprendizagem dos alunos.
“As crianças estão perdendo a oportunidade de ter um aprendizado eficiente, com qualidade. Porque, com salas superlotadas, o professor não dá conta de acompanhar de perto os alunos. Então, é isso que temos hoje no município de Dourados: salas superlotadas e trabalhadores desvalorizados. Essa perda vem acontecendo ao longo da história. O que a gente pede é ser olhado, ser valorizado porque a valorização da educação e dos trabalhadores reflete diretamente na aprendizagem dos alunos”, finaliza Ivonete.
Fonte: Dourados News




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