Quando se trata do desempenho de qualquer carro, motores tendem a roubar os holofotes. Pneus, no entanto, têm ampla importância (embora às vezes subestimada): como os únicos componentes do carro em contato com o solo, eles interferem na aderência, no ruído, no consumo de energia e, ainda, na sustentabilidade. Por conta disso, empresas como a americana Goodyear vêm procurando alternativas para atenuar o problema, utilizando, por exemplo, raízes de dente-de-leão e óleo de soja como substitutos para a borracha em compostos de pneus.

O projeto já saiu do papel e foi transferido para a linha de montagem. Ainda neste ano, a Goodyear pôs em produção na América do Norte dois pneus de ônibus Metro Miler feitos com óleo de soja excedente. Foram substituídos 325 ml de óleo de petróleo por unidade — o que, em uma frota de 1.600 ônibus, representa economia de cerca de 20 barris de óleo.

Com a missão de abandonar o uso de petróleo em pneus até 2040, a Goodyear também anunciou em abril um programa para fabricar borracha natural sustentável. O projeto, feito em parceria com o Departamento de Defesa dos Estados Unidos, o Laboratório de Pesquisa da Força Aérea e duas empresas (Biomade e Farmed Materials), fez uma análise de 2.500 espécies de plantas para fabricação de compostos. Encontrou na Taraxacum kok-saghys, uma espécie russa de dente-de-leão, como o tipo certo de látex necessário para pneus.

Segundo a empresa americana, a “TK”, como é apelidada, é fácil de cultivar em climas temperados e pode ser colhida a cada seis meses — um ótimo contraponto, do ponto de vista produtivo, contra os sete anos necessário para extrair látex das seringueiras. No estado de Ohio, centro-leste dos EUA, o plantio e a colheita de sementes da dente-de-leão já começaram.

Continental quer adotar pneus nos próximos dez anos

A Goodyear, no entanto, não foi a primeira a investir em pneus feitos de dente-de-leão. Antes disso, a alemã Continental começou a usar a mesma Taraxacum para produzir látex natural (veja no vídeo acima) e testou com sucesso, em meados de 2014, seu primeiro pneu feito a partir da planta, o Wintercontact TS850.

Desde então, a companhia trabalha junto a especialistas do Instituto Fraunhofer de Biologia Molecular e Ecologia Aplicada e da Universidade de Münster, na Alemanha, para aprofundar a tecnologia. Entre algumas das técnicas experimentadas, está a aplicação de reprodução seletiva para desenvolver plantas mais resistentes e de alto rendimento.

Além dos benefícios ecológicos — isto é, não depender da extração de borracha na Amazônia para construir as linhas de montagem —, uma das vantagens na abordagem da Continental é incentivar a produção de materiais nas fábricas de pneus locais e evitar o escoamento de carga de CO2 no transporte de matéria-prima da América do Sul e África Ocidental para a América do Norte e Europa. A empresa alemã espera começar a adotar os pneus de dente-de-leão nos próximos dez anos.

Crédito da imagem principal: Farmed Materials/Divulgação

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