O que são cidades inteligentes? Elas são a solução para o planeta Terra – cada vez mais impactado em decorrência das mudanças climáticas? Tecnicamente falando, uma Smart City é uma cidade que utiliza tecnologia para conectar o físico ao virtual, objetivando aumentar o nível de ciência do que acontece em todos os ambientes e com os cidadãos (usando informações randomizadas), oferecendo tudo como serviços via servitização, analisando dados para determinar tendências e revertendo em mudanças através de atuadores e interação com os cidadãos.
Integram IoT, IA, cloud, conectividade, blockchain, realidade virtual/mista, gameficação, e centenas de outras tecnologias para melhorar a qualidade de vida nas cidades, reduzir o impacto ambiental e otimizar o uso do que é público. As cidades inteligentes não são somente cidades mais conectadas ou informatizadas, mas sim cidades que agregam valor para as pessoas, negócios, melhoram a sustentabilidade, tornam o uso do que é público eficiente e eficaz.
“Não existe um conceito de cidade inteligente pronto. Ela é o uso da tecnologia para resolver problemas e desafios que toda cidade tem. Não existe uma fórmula mágica. Uma na Alemanha será diferente de uma no Brasil pois os desafios são outros. Lá eles não querem que o ônibus atrase dois ou três minutos. Aqui temos problemas com consequências muito maiores: transporte, geração de energia, eficiência energética nos prédios, saneamento, entre outros. Ou seja, uma cidade inteligente precisa resolver algum problema. Não adianta nada a gente ter tecnologia simplesmente pelo fato de ter tecnologia. Isso é gastar dinheiro de forma irracional. É preciso um motivo legítimo por trás, um propósito”, afirma Sergio Jacobsen, Vice-presidente da área de smart infrastructure da Siemens, em entrevista para o Olhar Digital.
“No Centro-Oeste do Brasil, por exemplo, um dos grandes focos é o escoamento de carga. Já no Norte temos um problema seríssimo de roubo de energia. É preciso inteligência para saber como achar esses fraudadores e como corrigir esses problemas, pois quem rouba não economiza e acaba atingindo todo mundo”, completa ele.
É possível criar uma cidade inteligente?
A resposta pode estar no nordeste brasileiro, mais precisamente no município de Entre Rios, na Bahia, local onde Aguaduna está sendo criada. A iniciativa é de propriedade da empresa de capital espanhol Naurigas Emprendimientos, com participação das famílias Matutes Mestre y Espallargas, além de conceituado e desenvolvido pela Seed Global Advisoring (SGA), empresa espanhola especializada em desenvolvimento de projetos.
Em Aguaduna, a tecnologia ajudará a reportar falhas em equipamentos públicos (semáforos, iluminação, etc), repassar informações de serviços e atividades da cidade como a necessidade de reservar um posto de carregamento de veículo elétrico, notificar os gestores sobre a qualidade de espaços públicos, entre outras trocas de dados que são fundamentais para a boa gestão do local e melhora do bem estar da população.
Em sinergia com as comunidades vizinhas, o intuito é que o local tenha como principais pilares a economia circular, inclusive com o reaproveitamento de recursos; a criação de empregos ligados à inovação, em setores como a Internet das Coisas (IoT) e a gestão de dados em larga escala; a priorização de modais alternativos de transporte, com meios de locomoção autônomos, compartilhados e não poluentes; e a gestão eficiente de recursos naturais, incluindo o uso de energia renovável e captação de águas residuais.
“É bem mais fácil, mais simples, criar uma cidade inteligente. Igual quando construímos uma casa, já que reformar é aquele caos. Mas depende da complexidade da cidade. É difícil pegar São Paulo e transformá-la em uma cidade inteligente. No futuro sim, mas tem que ser feito de maneira muito organizada, em etapas, com política pública”, diz o executivo da Siemens, que é parceira estratégica de Aguaduna com foco em implementar soluções tecnológicas no uso de dados em larga escala.
Serviços digitais e o uso de Big Data farão parte do projeto para otimizar a performance tecnológica da cidade inteligente. Esses avanços também serão implementados em áreas como eletrificação, gerenciamento de resíduos, segurança e mobilidade, criando grandes sinergias entre si e abrindo espaço para inúmeras novas oportunidades de negócios ligadas à economia do conhecimento.
E no mundo, qual cidade é referência no assunto cidade inteligente? Sergio Jacobsen não hesita em responder: “Dubai, com certeza, pois tem tudo novo e não falta dinheiro. Mas hoje não dá pra falar que tem uma cidade de grande porte no mundo que seja uma cidade inteligente, mas existem elementos em várias delas, principalmente nos EUA e na Europa. Os Estados Unidos estão criando micro-redes dentro de bairros e universidades”.
Sustentabilidade é o foco
Acima de tudo, a sustentabilidade é o maior propósito para uma cidade inteligente. “Um exemplo é Jundiaí, em que, em conjunto com a prefeitura, a Siemens realizou um estudo que desenha cenários futuros (horizontes para 2030 e 2050), quantificando as emissões de gases de efeito estufa e partículas nocivas à saúde, conforme aumenta a penetração de tecnologias sustentáveis. Ali, a mobilidade tem grande impacto, pois o transporte é responsável, hoje, por mais da metade dessas emissões.
No cenário em que não temos nenhum veículo elétrico (BAU), contamos com uma redução total de CO2 de apenas 8,4%, enquanto, no cenário 3, a redução chega a 21,9%. Assim como essa iniciativa, existem muitas outras em andamento. Precisamos agora evoluir com ações concretas e definir modelos de concessão e de negócio que sejam sustentáveis, economicamente. Esse movimento merece ganhar escala para que nossas cidades sejam bem mais seguras e saudáveis para viver”, explicou o executivo.
Cibersegurança é a necessidade
Mas a sustentabilidade pode ser afetada por práticas criminosas, como detalha Jacobsen: “O crime está virando cyber. Existem ransomware que estão entrando em concessionários de energia e sistemas operacionais. Esta é uma preocupação constante aqui na Siemens e principalmente com nossos clientes. Quanto mais digital a gente está, maior a superfície de exposição a esse tipo de ataque. Quando falamos de cidade, estamos falando de infraestrutura crítica, energia, saneamento. Então um ataque mal-intencionado em qualquer uma dessas esferas a consequência é gigantesca, pode desligar um bairro, uma cidade, é gravíssimo. A responsabilidade é gigantesca”.
Por fim, Sergio comenta o atual cenário de profissionais brasileiros que possam atuar em projetos de cidades inteligentes. “Pensando só em cidade inteligente, não diria que a mão de obra no Brasil é um problema. O maior problema é a falta de profissional da programação, de software, o cara de dados, da cibersegurança. É preciso ter um cuidado enorme com cibersegurança e programação, principalmente softwares de operação, linguagem inteligente. Esse é o profissional que hoje faz falta e é disputado por todo mundo”.
Fonte: Olhar Digital
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