Decisão é o maior revés do governo de Gustavo Petro, que assumiu a presidência em agosto e pretende extinguir o conflito armado que continua apesar da desmobilização das Farc em 2017
A Colômbia suspendeu nesta quarta-feira, 4, o cessar-fogo com a guerrilha do Exército de Libertação Nacional (ELN) após eles informarem na terça-feira, que não havia nenhum acordo bilateral. “Dada a posição tomada publicamente ontem, decidimos suspender os efeitos legais do decreto 2.657 de 31 de dezembro de 2022, e no próximo ciclo de negociações o diálogo sobre esta questão será reativado”, disse o ministro do Interior da Colômbia, Alfonso Prada, em entrevista coletiva na Casa de Nariño, sede do governo. Prada também convidou “esta organização a declarar uma trégua verificável em resposta ao imperativo das comunidades étnicas, territoriais e camponesas”, enquanto a questão do cessar-fogo bilateral está sendo resolvida. Na terça, o ELN declarou que “não discutiu nenhuma proposta de cessar-fogo bilateral com o governo de Gustavo Petro, portanto ainda não há acordo sobre o assunto”.
No último dia do ano de 2022, o presidente Gustavo Petro anunciou um acordo de cessar-fogo bilateral com os principais grupos armados do país, incluindo o ELN. Para cada organização, o governo expediu decretos, que ainda mantém em sigilo, nos quais estabelece as condições da trégua que, segundo cálculos independentes, abrange cerca de 15 mil combatentes. O anúncio de Petro foi comemorado por organismos internacionais, como as Nações Unidas e a Organização dos Estados Americanos (OEA), que manifestaram disposição de fazer o acompanhamento do cessar-fogo. A declaração do ELN e o fim do cessar-fogo, é o maior revés da iniciativa de “paz total” com a qual Petro, que assumiu o cargo em agosto, pretende extinguir o conflito armado que continua apesar da desmobilização das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), em 2017.
O ELN está presente em 22 dos 32 estados da Colômbia, onde disputa a receita do narcotráfico e do garimpo ilegal. Segundo centros de estudos independentes, o grupo teria cerca de 3.500 combatentes. Os dissidentes das Farc que continuam armados, o Clã do Golfo – a maior quadrilha de narcotráfico do país – e as milícias da Serra Nevada, também fazem parte do cessar-fogo bilateral proclamado por Petro. Apenas o ELN rejeitou publicamente essa declaração. Na insurgência desde 1964, o ELN só pactuou uma vez o cessar-fogo bilateral, enquanto celebrava um processo de paz com o governo de Juan Manuel Santos (2010-2018), em 2017. A trégua inédita foi rompida depois de 100 dias devido a ataques com explosivos dos rebeldes a oleodutos estatais.
Especialistas afirmam que sua estrutura federada com diferentes frentes e comandos dificulta as negociações de paz. “É muito desconcertante porque o que eu tinha entendido é que isto não era uma oferta unilateral, em que o Estado está deixando de perseguir a criminalidade a troco de nada”, afirmou a senadora Paloma Valencia, do Centro Democrático (oposição). Com sua política de “paz total”, Petro pretende conter a espiral de violência que se seguiu ao acordo histórico assinado com o grosso da guerrilha das Farc, em 2016. O primeiro presidente de esquerda da Colômbia, que em sua juventude pertenceu à desmobilizada guerrilha M-19, defende a saída negociada para o conflito com insurgentes, traficantes, paramilitares e gangues.
*Com informações da AFP
Fonte: Jovem Pan News
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