Você não leu errado nem se enganou de site: o assunto é realmente a “arte” de separar as duas partes de um biscoito recheado garantindo que ambas fiquem cobertas com o creme. E, sim, isso é ciência – pelo menos para os pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos EUA, que desenvolveram um estudo todo voltado para isso (por incrível que pareça).

E a pesquisa foi, inclusive, publicada em uma conceituada revista científica, a Physics of Fluids, sendo devidamente revisada por pares. No artigo, os autores compartilharam sugestões sobre como a Oreo, marca que pertence a uma das maiores empresas de snacks do mundo, a Mondelēz International, poderia ajustar a produção para resolver o “problema”.

Das muitas formas de se consumir Oreo, pesquisadores descobriram que a mais usada é abrindo o biscoito para comer um lado de cada vez – mas, dificilmente, o recheio permanece nas duas partes. Imagem: Artissara – Shutterstock

Primeiro, um levantamento descobriu que a maioria dos consumidores de Oreo comem da mesma maneira o biscoito (sim, é biscoito que está escrito na embalagem, e não bolacha, o que explica nossa “opção editorial” em usar essa nomenclatura). E essa maneira é: pressionar os lados um contra o outro, torcer, abrir e consumir cada parte separadamente – se estiver com sorte, ambas estarão com o creme.

No entanto, segundo os cientistas, isso não é questão de “sorte”, mas de técnica – viu como existe ciência em tudo?

O que a Covid-19 tem a ver com o recheio do biscoito?

“Sempre fiquei irritada por ter que torcê-los e depois empurrar o creme de um lado para o outro”, disse Crystal Owens, candidata a Ph.D. no departamento de engenharia mecânica do MIT. Ela liderou um grupo de pesquisadores em uma busca para descobrir se havia um truque para fazer o creme ficar em ambas as partes.

Sua linha de pesquisa é focada em materiais que poderiam ser usados como tinta para impressão 3D, esmagando-os entre duas placas de metal contrarrotativas em um dispositivo conhecido como reômetro para examinar como os fluidos se deformam e respondem à torção ou forças de torção.

Crystal Owens em um laboratório do MIT com um Oreo impresso em 3D e equipamentos para os experimentos de sua equipe. Créditos: Joshua David e John Rathinaraj – TWSJ

Um dia, em 2021, durante o lockdown forçado pela pandemia de Covid-19 (realmente parece coisa de quem estava “sem nada para fazer”, mas, não é bem assim), ela percebeu que isso combinava com o método preferido das pessoas de consumir Oreo, então levou a sugestão à sua equipe. “Nós meio que percebemos que essa é uma analogia perfeita para o que acontece quando você tenta abrir um Oreo”.

Os colegas abraçaram a ideia. Eles colaram Oreos de vários sabores ao reômetro, acionando-o para torcê-los em velocidades diferentes. “Materiais com propriedades mecânicas semelhantes ao creme Oreo – creme dental, iogurte, sorvete – se dividem ao meio quando submetidos a torção suficiente”, disse Owens.

Depois de colocar mais de mil Oreos à prova, os pesquisadores descobriram que o recheio grudava em apenas uma das partes cerca de 80% das vezes.

E a velocidade da torção não importava. Mesmo na velocidade de torção mais lenta do reômetro, que levou cerca de cinco minutos para separar as metades, o creme permaneceu só de um lado. Na velocidade máxima – cerca de 100 vezes mais rápida do que uma pessoa pode torcer – o creme voou de ambas as partes.

“Também testamos os biscoitos à mão – torcendo, descascando, pressionando, deslizando e fazendo outros movimentos básicos para separar um Oreo”, disse ela. “Não havia combinação de nada que pudéssemos fazer à mão ou no reômetro que mudasse qualquer coisa em nossos resultados”.

Uma ideia proposta pela equipe era virar as duas faces para que a superfície externa mais texturizada, que contém a palavra Oreo, ficasse voltada para dentro. Outra era prender ambas as partes simultaneamente ao creme, já que Owens e seus colegas acreditam que a parte na qual o recheio é aplicado primeiro tem uma ligação mais estreita com ele.

A Mondelēz se recusou a compartilhar detalhes sobre o processo de fabricação do biscoito, mas Michelle Deignan, vice-presidente da Oreo nos EUA, disse que a empresa “ama essa criatividade informada por dados”.

Oreo europeu mantém o recheio nas duas partes

Parece que do outro lado do oceano a história é outra. Thomas Schlathölter, físico da Universidade de Groningen, na Holanda, que não esteve envolvido no estudo, pediu a seus alunos que tentassem replicar os resultados da equipe do MIT com o Oreo de lá.

“Para minha surpresa, muitos alunos observaram uma divisão bastante uniforme do recheio”, disse Schlathölter ao The Wall Street Journal. “Os Oreos europeus parecem ser diferentes.” Ele acha que a diferença está na fórmula do creme.

Owens, do MIT, disse suspeitar que o que distingue os Oreos da Europa dos biscoitos produzidos nos EUA seja o processo de fabricação e não a receita. 

E você? Qual é o seu jeito de comer esse famoso biscoito recheado?

Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!