Um artigo publicado nesta sexta-feira (9) na revista Scientific Reports descreve a descoberta do que os arqueólogos afirmam ser os instrumentos de sopro mais antigos já encontrados no Oriente Médio: um conjunto com 12 mil flautas feitas de ossos, com idade estimada em cerca de 12 mil anos.

Segundo os pesquisadores, essa fase representa o período em que os humanos fizeram a transição do estilo de vida de caçadores-coletores para assentamentos agrícolas. 

Construídas a partir dos ossos das asas de pequenos patos, as flautas imitam os chamados das aves de rapina locais, o que significa que, mais do que produzir música, esses artefatos podem ter sido usados para caçar.

As flautas contém de um a quatro furos de dedos. Imagem cortesia de Yoli Schwartz, Autoridade de Antiguidades de Israel, para o site IFLScience

De acordo com o artigo, os autores estimaram a idade dos artefatos por meio de análises tecnológicas, de uso, tafonômicas, experimentais e acústicas, chegando à conclusão que os objetos “foram intencionalmente fabricados há mais de 12 mil anos para produzir uma gama de sons semelhantes aos chamados de raptor e cujos propósitos poderiam estar na encruzilhada da comunicação, atraindo presas caçadoras e fazendo música”.

Os instrumentos foram descobertos no sítio arqueológico Eynan-Mallaha, no norte de Israel, em uma camada de sedimentos associada à cultura natufiana. Ocupando a região entre 15 mil e 11 mil anos atrás, os natufianos foram os primeiros povos a adotar um estilo de vida sedentário e estabelecer uma economia agrícola, trazendo assim a humanidade do Paleolítico para o Neolítico.

Ouça o som das flautas de ossos

No total, os arqueólogos descobriram sete aerofones ósseos, um dos quais estava intacto, enquanto os seis restantes estavam em pedaços. “Uma das flautas foi descoberta completa. Até onde se sabe, é o único no mundo neste estado de preservação”, explicaram os pesquisadores Laurent Davin e Hamoudi Khalaily ao site IFLScience.

Cada flauta foi perfurada com um a quatro furos de dedo, permitindo a manipulação do tom. Depois de criar réplicas dos instrumentos antigos, os pesquisadores observaram que eles produziram “três altas frequências intensas” que imitavam os chamados do peneireiro comum e do gavião-pardal – ambas aves comuns na região no início do Neolítico.

Segundo Khalaily, “se as flautas foram usadas para caçar, então esta é a primeira evidência do uso de som na caça”. Embora seja uma possibilidade, os pesquisadores acreditam que tal tática “teria carecido de eficácia”. Eles se questionam “se os chamados imitativos de pássaros foram integrados às práticas musicais ou de dança natufianas”.

Enquadrando a descoberta no contexto mais amplo do desenvolvimento cultural humano no Oriente Médio, os autores dizem que “agora está claro que a evolução da música na transição para a agricultura, que articulou a intensificação da complexidade sociocultural, foi mais ramificada do que se supunha”.