Os pais de uma adolescente de 15 anos entraram com um processo contra o TikTok após o algoritmo da rede, segundo eles, contribuir para a piora do quadro emocional da filha, que acabou tirando a própria vida. Segundo informações da agência RFI, essa é a primeira vez que uma ação do gênero é movida no país.  

O que você precisa saber: 

É evidente que o TikTok tem sua parte de responsabilidade no que aconteceu. 

Laure Boutron-Marmion, advogada dos pais de Marie, à rádio FranceInfo

A advogada ressaltou ainda que a jovem foi muito explícita ao falar de seu sofrimento na época e, “pelo algoritmo, recebeu um volume importante de vídeos sobre o mesmo tema, que só podem tê-la levado a se sentir ainda pior”. 

Os pais de Marie abriram um processo por “incitação ao suicídio”, “propaganda sobre meios de se suicidar” e “não atendimento a pessoa em perigo”. Uma investigação por assédio escolar também foi aberta após a morte da adolescente. 

Lidando com adolescentes e redes sociais

Em entrevista exclusiva ao Olhar Digital, Jaime Ribeiro, CEO e cofundador da Educa e especialista em desenvolvimento humano, explicou que ouso das redes sociais de fato amplificam as pressões sociais enfrentadas no dia a dia, levando pessoas a compararem suas vidas com as dos outros, agravando sentimentos de inadequação e baixa autoestima.

No caso dos mais jovens, o risco é considerado maior devido à vulnerabilidade que eles apresentam, estando expostos a atos de cyberbullying e outros tipos de violência infantil. A coleta de dados de menores por plataformas como o TikTok também é um ponto frequentemente debatido, sem mencionar a exposição sem controle dos pais a conteúdos nocivos.

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Imagem: Ground Picture/Shutterstock

Então crianças e adolescentes não devem acessar as redes sociais?

Segundo Ribeiro, não é bem por aí. Na era em que vivemos, diversas tarefas escolares requerem o uso da internet, sem mencionar a evolução da sociedade como um todo que coloca as chamadas gerações Z e Alfa como nativos digitais, estando totalmente integrados a tendência on-line e tendo facilidade com qualquer recurso tecnológico.

As redes sociais podem atuar como facilitadores para a socialização dos jovens, portanto, não se deve retirar esse recurso social, mas, sim, ensinar como fazê-la. Para isso, é preciso promover o diálogo aberto sobre os limites do uso da internet, estabelecer combinados claros entre os familiares, em especial quando se entrega uma ferramenta digital para ser usada, acertando o que se deve ou não fazer com aquele recurso.

Jaime Ribeiro, CEO e cofundador da Educa e especialista em desenvolvimento humano.

A escola também desenvolve um papel importante na relação internet e adolescentes. Embora a expressão bullying seja relativamente nova, os casos de assédio escolar não são. Assim como é necessário o suporte e atenção em casa, a figura dos educadores e líderes escolares deve ser ativamente presente no dia a dia.

A escola deve promover treinamentos e instaurar uma cultura de tolerância zero para tais comportamentos agressivos. E tão importante quanto essa conscientização, a escola também deve oferecer um ambiente seguro de apoio emocional aos alunos, estando lado a lado da família para garantir que do portão para fora, também exista uma política anti-bullying.

Aos pais, o educador pontuou que “o olhar ativo é a chave” para notarem que algo está errado.

É importante conhecer o próprio filho no sentido de estar familiarizado com seu comportamento habitual, para assim, identificar mudanças súbitas no comportamento emocional, como tristeza intensa ou raiva, o isolamento social, a perda de interesse em atividades sociais, problemas de sono, queda no desempenho escolar e lesões inexplicadas.

Imagem: shutterstock/fizkes
Imagem: shutterstock/fizkes

Vale destacar que, claro, é importante que adolescentes sejam orientados sobre o uso responsável das redes sociais, mas é primordial saber identificar a necessidade de busca por ajuda profissional para casos mais profundos, finaliza Ribeiro.

Conforme lembrado pela Rádio França Internacional, em 2017, um caso semelhante ao da França aconteceu no Reino Unido. Após o suicídio de uma adolescente de 14 anos, os pais processaram redes sociais que teriam contribuído para a piora do quadro emocional e posterior morte da filha. Em 2022, a justiça britânica reconheceu a influência dos algoritmos no caso.

O assédio escolar é um delito na França desde o ano passado. Segundo a lei de março de 2022, autores estão sujeitos a penas de 10 anos de prisão e 150 € mil de multa. Atualmente, o país também discute outros casos de suicídio provocado por bullying, relançando o debate sobre o assédio nas escolas.

O Olhar Digital procurou o TikTok, que ainda não se manifestou sobre o caso.