Em conversa sobre o plano de golpe, policial fala em ‘matar meio mundo’ para manter Bolsonaro no poder

O ex-presidente Jair Bolsonaro é visto ao chegar em Brasília no dia que se inicia seu julgamento pela primeira turma do Superior Tribunal Federal

Mensagens mostram que Wladimir Soares esperava aval de Bolsonaro para impedir posse de Lula e prender ministro do STF

Novos áudios obtidos pela Polícia Federal revelam detalhes estarrecedores do envolvimento do agente Wladimir Matos Soares no plano golpista para manter Jair Bolsonaro (PL) no poder após as eleições de 2022. Em mensagens recuperadas do seu computador, o policial afirmou que ele e seu grupo estavam prontos para “matar meio mundo” e impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Wladimir está preso preventivamente desde novembro de 2024 e foi formalmente denunciado no inquérito que investiga a tentativa de golpe de Estado. Em conversas no WhatsApp, ele declarou fazer parte de uma “equipe de operações especiais”, armada e com “poder de fogo elevado”. Segundo ele, bastava uma ordem direta de Bolsonaro para que o grupo agisse.

“Esperávamos só o ok do presidente, uma canetada, pra gente agir. Só que o presidente deu para trás porque na véspera que a gente ia agir o presidente foi traído dentro do Exército”, afirmou em um dos trechos.

Em outra parte do diálogo, ele confirma que a prisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), fazia parte dos planos. “Eu ia, estava na equipe”, declarou o agente, reforçando que a ação estava “toda planejada”.

Segundo Wladimir, apenas a Marinha, liderada à época pelo almirante Almir Garnier, teria apoiado integralmente o plano golpista. “Garnier foi o único cara. A Marinha desde o começo foi a única que apoiou a gente 100%. O resto tirou o corpo.”

As mensagens trocadas entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023 também mostram críticas pesadas a Moraes. Wladimir afirmou que o ministro deveria ter tido “a cabeça cortada” em 2020, quando barrou a nomeação de Alexandre Ramagem para o comando da Polícia Federal. “Mas não fez, foi frouxo”, completou.

As evidências foram obtidas durante a Operação Tempus Veritatis. A perícia da PF recuperou um backup do WhatsApp no notebook de trabalho do policial. O material foi incluído em um relatório complementar e enviado ao Supremo Tribunal Federal.

“O novo conjunto de provas confirma o contexto criminoso já apontado, demonstrando que Wladimir Matos Soares foi arregimentado e integrou a organização criminosa que tentou abolir o estado democrático de direito em 2022”, afirmam os delegados Fábio Alvarez Shor e Itawan de Oliveira Pereira no relatório oficial.

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