País nunca assinou tratado internacional e ignora inspeções da ONU, diferente das exigências feitas ao Irã
Apesar de condenar qualquer possibilidade de que o Irã desenvolva armas nucleares, Israel mantém, há décadas, um programa nuclear secreto. De acordo com estimativas da Federação de Cientistas Americanos e da Associação de Controle de Armamentos, ambas dos Estados Unidos, o país possui pelo menos 90 ogivas nucleares — podendo chegar, segundo outras fontes, até 300 bombas atômicas.
Israel nunca reconheceu oficialmente ter armas nucleares, mas também nunca negou. Além disso, é o único país do Oriente Médio que se recusa a assinar o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), permanecendo fora das inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), ligada à ONU. A postura contraria apelos feitos pelo Conselho de Segurança da ONU desde 1981.
Segundo relatos históricos, o programa nuclear israelense teve início na década de 1950, com apoio de países como França e, em parte, dos Estados Unidos. O historiador Luiz Alberto Moniz Bandeira relata que Israel começou a construção da usina nuclear de Dimona antes mesmo de 1958, com auxílio do projeto Soreq Nuclear Research Center.
O professor de relações internacionais Robson Valdez, do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), critica o que classifica como hipocrisia internacional. “Para os inimigos, todo o rigor da lei internacional. Já para os aliados, como Israel — notório violador do direito internacional —, há uma retórica contemporizadora”, disse.
Fontes históricas indicam que os primeiros reatores vieram dos EUA, no programa “Átomos para a Paz”. Porém, Israel avançou na construção das bombas nucleares sem comunicar Washington. A CIA só teria descoberto o projeto três anos depois — ou teria ignorado intencionalmente.
O cientista político Ali Ramos, especialista em história da Ásia e do mundo islâmico, observa que “os EUA fizeram vista grossa”. Ele também destaca a influência do lobby israelense nas agências de inteligência dos EUA. “O programa nuclear israelense é o único do mundo que não passa por inspeções da ONU nem da AIEA. Nem americanos, britânicos ou franceses estão livres desse controle. Só Israel vive nesse limbo”, afirma.
Moniz Bandeira, em sua obra A Segunda Guerra Fria, revela ainda que Israel recebeu materiais e apoio técnico da França, além de urânio enriquecido contrabandeado dos Estados Unidos, conforme depoimento do ex-agente da CIA Carl Ducketts.
O programa secreto foi exposto ao mundo em 1986, quando o ex-técnico nuclear israelense Mordechai Vanunu revelou sua existência ao jornal britânico Sunday Times. Ele foi preso por traição e espionagem, passou 18 anos na cadeia — 11 deles em solitária — e, até hoje, vive com restrições. “O que eu fiz foi informar o mundo sobre o que acontecia em segredo. Não foi traição. Foi sobre salvar Israel de um novo holocausto”, declarou à BBC em 2004, após ser libertado.
Israel também ignorou a resolução 487 da ONU, de 1981, que pedia que suas instalações nucleares fossem colocadas sob supervisão da AIEA — o que nunca aconteceu. Em 2009, a AIEA reiterou o pedido, mas o governo israelense respondeu que “cabe ao Estado decidir se adere ou não a qualquer tratado”.
O arsenal nuclear, além de dissuasão, também teria sido usado como estratégia geopolítica. Durante a Guerra do Yom Kippur, em 1973, o ministro da Defesa, Moshe Dayan, colocou 24 bombardeiros em prontidão, equipados com 13 ogivas nucleares, pressionando os Estados Unidos a intervir contra Egito e Síria.
Procurada, a Embaixada de Israel no Brasil informou que não comentaria o assunto.




Comentários