Após tempestade perfeita para Lula, direita reage com união no Congresso

Após dois dias de obstrução protagonizada pela oposição na Câmara dos Deputados, o presidente da Casa, Hugo Motta (c), retoma a cadeira para abrir a sessão plenária

O final do último ano antes das eleições presidenciais de 2026 se desenhava muito favorável ao presidente Lula (PT), candidato à reeleição e líder nas pesquisas: inflação controlada, empregabilidade recorde, aprovação da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 e queda do tarifaço dos EUA para uma série de produtos brasileiros, com direito a elogios do presidente norte-americano, Donald Trump, ao petista formaram uma agenda positiva forte, reforçada pela prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), principal líder da oposição.

Em meio a uma tempestade perfeita, no entanto, o governo cometeu um deslize: despertou a ira do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), ao indicar o atual advogado-geral da União, Jorge Messias, a uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF). Além de preterir Rodrigo Pacheco (PSD-MG), favorito de Alcolumbre e do Centrão, Lula tramou para atrasar a sabatina de seu indicado e ganhar tempo para negociar com senadores, irritando ainda mais o presidente do Congresso. A relação do governo já não era boa com Hugo Motta (Republicanos-PB), presidente da Câmara.

E foi justamente no Congresso onde a direita, ainda desnorteada com a prisão de Bolsonaro, conseguiu dar sinal de vida no final de 2025, sendo recebida de braços abertos pelo Centrão.

Poucos dias após o ex-presidente ser detido, uma atabalhoada ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro queimou pontes com o Centrão ao afundar o apoio do PL a Ciro Gomes (PSDB) no Ceará.

Após trocas de farpas com os enteados, no entanto, a família se uniu (ao menos publicamente) e conseguiu mostrar força. O anúncio da pré-candidatura de Flavio Bolsonaro (PL-RJ) pegou muito líderes da direta surpresa e desagradou caciques do Centrão, que preferem o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). O primogênito de Bolsonaro, no entanto, conseguiu transformar as críticas em privado em elogios públicos, sendo elogiado até por Tarcísio.

Cerca de 24 horas após o anúncio, o senador disse que poderia rever a candidatura e que ela tinha “um preço”, citando uma anistia ao pai. Novamente, o movimento foi criticado internamente, considerado precipitado e mal conduzido. Publicamente, no entanto, a direita se manteve elogiosa e bancou a pré-candidatura.

O plano, apesar de caricato e com falhas de condução, rendeu frutos rapidamente: apenas cinco dias após o anúncio da pré-candidatura de Flávio, e um dia após uma reunião com líderes do Centrão, a direita pautou e aprovou o PL da Dosimetria, parado há quase dois anos, na Câmara dos Deputados. O Senado deve votar a matéria já na próxima semana. Deputados de centro votaram massivamente a favor e foram vocais na defesa da matéria. Nos bastidores, o Centrão aposta na “pacificação” para acalmar o bolsonarismo e viabilizar a candidatura de Tarcísio com apoio da direita.

Ainda que bolsonaristas insistam pela anistia geral e irrestrita, a votação representa um avanço na aliança entre direita e Centrão no Congresso, além de um aprofundamento da crise entre o Legislativo e os outros poderes.

Em desafio ao Supremo, o Senado votou, também ontem, o Marco Temporal, que será debatido hoje pelos ministros do STF. A Casa Alta também debate a Lei do Impeachment, após decisão polêmica do ministro Gilmar Mendes de dar apenas à PGR a prerrogativa de pedir impedimento dos ministros da Corte.

O movimento dos congressistas acende um alerta no governo, que vinha conseguindo avançar a pauta econômica no Legislativo. Ainda neste ano, o Executivo precisa aprovar a Lei Orçamentária Anual. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pretende aprovar a reforma administrativa antes das eleições.

Há menos de um ano das eleições, Lula segue favorito ao Planalto, segundo as pesquisas e analistas. Ainda sem candidatura(s) definida(s) para o Executivo Federal, a direita costura alianças com o Centrão e deve chegar competitiva. No Legislativo, a tendência é que o campo conservador mantenha sua ampla vantagem na Câmara e estenda seu domínio para o Senado.

 

Fonte: Jovem Pan News

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