Desde 2013, Cristiano Zanin Martins, atualmente com 47 anos, deixou as principais ações do direito empresarial de lado e ganhou os holofotes ao assumir a defesa do então ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nos processos da Operação Lava Jato. Responsável pelo pedido que que culminou na anulação das condenações e trilhou o caminho que devolveria ao petista seus direitos políticos, e permitiu que Lula disputasse – e vencesse – as eleições presidenciais de 2022, Zanin é o novo integrante da mais alta instância do Judiciário brasileiro: o Supremo Tribunal Federal (STF). Indicado por Lula para a vaga deixada pelo então ministro Ricardo Lewandowski, o advogado foi aprovado por 58 votos a 18 no plenário do Senado, na noite desta quarta-feira, 21. Mais cedo, os integrantes da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) o aprovaram por 21 votos a 5, em uma sabatina marcada por perguntas sobre aborto, drogas, processos da Lava Jato e sua relação com Lula.
Formado em direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo em 1999, Cristiano Zanin é especialista na área do direito empresarial, econômico e societário. Ele iniciou sua carreira na advocacia em 2000, quando assumiu cargo no escritório Arruda Alvim. Em 2004, se tornou sócio do escritório Teixeira Martins Advogados, ao lado de seu sogro Roberto Teixeira – que havia atuado como advogado de Lula. A parceria durou até 2022, quando Zanin abriu seu escritório ao lado da esposa, Valeska Martins. Além dos 18 anos da sociedade, um episódio também marcou o trabalho entre genro e sogro: uma operação da Lava Jato. Em 2020, o juiz Marcelo Bretas ordenou o bloqueio de R$ 237,3 milhões em bens de Cristiano Zanin e de seu escritório com Roberto Teixeira. A medida aconteceu no âmbito da Operação E$quema S, que apurava esquema de tráfico de influência no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e no Tribunal de Contas da União (TCU), com desvios de R$ 151 milhões em contratos feitos pela Federação do Comércio (Fecomercio) do Rio de Janeiro e pagos com Sistema S.
Na época, Zanin chegou a ser alvo de busca e apreensão e afirmou que o episódio era “despropositado e ilegal”, além de dizer que a decisão de Bretas seria um ataque à advocacia e uma retaliação aos seus trabalhos contra a força-tarefa – Bretas era o magistrado responsável pelas ações da operação no Rio de Janeiro. A denúncia contra o advogado, por fim, acabou arquivada. Além de defensor de Lula no âmbito jurídico, o professor de direito civil e direito processual Civil na Faculdade Autônoma de Direito (Fadisp) também defende o presidente no foro online. Zanin, que participou do casamento de Lula e Janja, chegou a afirmar, em entrevista no ano passado, que um “pedido de desculpas do governo a Lula seria um bom começo”. Em outra momento, ele alfinetou a apresentação de powerpoints feita pelo então procurador Deltan Dallagnol, que teve seu mandato cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral no mês passado, e escreveu: “Alguns PowerPoints envelhecem bem, outro geram dever de indenizar”.
Fora dos processos da Lava Jato, o indicado ao STF também enumera feitos de repercussão no direito empresarial – sua principal área de atuação. Entre os casos mais famosos, está a recuperação judicial da Varig, a falência da Transbrasil e a revisão do acordo de leniência da J&F Investimentos. Neste ano, Cristiano Zanin foi contratado pela lojas Americanas para atuar em uma disputa judicial contra o banco BTG Pactual pelo desbloqueio de R$ 1,2 bilhão de recursos da varejista. Em 2022, Zanin também auxiliou na coordenação da campanha de Luiz Inácio à presidência e, após a vitória, integrou a transição do governo Lula 3 como responsável pela “cooperação jurídica internacional”. No mês de janeiro deste ano, o advogado viu seu nome envolvido em uma polêmica que repercutiu nas redes sociais. Na ocasião, Zanin foi hostilizado no aeroporto de Brasília, no Distrito Federal, após o empresário Luiz Carlos Basseto Junior o filmar no banheiro masculino e desferir ofensas em sua direção. “Parece destino, né, cara? Pior advogado que possa existir na vida aqui ó, aqui ó. O bandido, ó. Ó, o corrupto aqui ó. Safado! (…) Vontade de meter a mão na orelha de um cara desse”.
Além das competências profissionais e polêmicas, outros fatos sobre o indicado ao STF chamam a atenção. Zanin é torcedor “roxo” do São Paulo e compartilhava nas redes sociais momentos de descontração – e prestígio – com seus mais de 100 mil seguidores. Entre os episódios de destaque está a vez que visitou o papa Francisco, acompanhando de Lula, e entregou a ele seu livro “Lawfare: uma introdução”, publicado em 2019 e que aborda “o uso estratégico do Direito para fins políticos, geopolíticos, militares e comerciais”. Outro registro, desta vez de 2017, mostra Cristiano e Chico Buarque jogando bola no Recreio dos Bandeirantes, Rio de Janeiro – com direito a gol da vitória marcado pelo compositor. Outras publicações mostram, inúmeras vezes, Zanin na praia, no Mercado Municipal de Paulo e ao lado da esposa. Casado há mais de 20 anos com Valeska Martins, que aparece na maioria das fotos compartilhadas pelo advogado no Instagram, Cristiano é pai de três filhos e tem a gastronomia como hobby e refúgio – aparecendo em vídeos antigos cozinhando inúmeros pratos, incluindo carnes, peixes com legumes na folha de bananeira e até o famoso Bife Wellington.
Fonte: Jovem Pan News
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